Poesias Escondidas
domingo, 30 de dezembro de 2012
Esquecido
Aermo Wolf
Sou esquecido
Reconheço minha parcela de culpa
Quem não se adapta a esse tempo,
É esquecido e não pode reclamar
Recuso-me a curvar os joelhos
A aceitar imposições
Determinações
Verdades absolutas
Eu me recuso!
Portanto, pago um alto preço
O esquecimento me é relegado
Sou esquecido
Nasci em uma época a qual não pertenço
O relativismo moral não me seduz
Os modernismos não me encantam
Tenho qualidades que não são vistas
Talvez um dia eu seja notado
Talvez um dia seja visto
Mas queria que notassem a mim!
Não a uma suposta posição social
Queria que vissem o interior
A minha alma
Acho que peço demais
A posição social sempre estará à frente
Não vou mudar
Continuarei a ser quem eu sou
Até lá pago o preço...
Permaneço no limbo
Esquecido
sábado, 29 de dezembro de 2012
Alma Solitária
Cruz e Souza
Ó Alma doce e triste e palpitante!
que cítaras soluçam solitárias
pelas Regiões longínquas, visionárias
do teu Sonho secreto e fascinante!
Quantas zonas de luz purificante,
quantos silêncios, quantas sombras várias
de esferas imortais, imaginárias,
falam contigo, ó Alma cativante!
que chama acende os teus faróis noturnos
e veste os teus mistérios taciturnos
dos esplendores do arco de aliança?
Por que és assim, melancolicamente,
como um arcanjo infante, adolescente,
esquecido nos vales da Esperança?!
Ironia de Lágrimas
Cruz e Sousa
Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.
A Morte lembra a estranha Margarida
Do nosso corpo, Fausto sem ventura…
Ela anda em torno a toda criatura
Numa dança macabra indefinida.
Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das Ilusões o eterno esquife prega.
E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada cega!
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Imagem De Criança
Ligia Tomarchio
Rosto lambuzado de esperança
balões coloridos flutuando...
Estórias de castelos, princesas, reis, anões...
Casas de chocolate, bruxas, maçãs...
Mãos pequenas orando
agradecendo a vida de brincadeiras.
Seus bichinhos de pelúcia segredam
um dia repleto de aventuras.
No retrato emoldurado de lembranças
vê sua imagem distorcida
parecida com o espelho...
Centelha de memória!
Por quem espera tão ansiosa
menina brincando de esconde-esconde?
Olhe para si, entre na fantasia
descubra-se e sinta a liberdade!
Você e eu somos uma.
Mãe ou filha, qual a diferença...?
Feitas de sonhos, nossas vidas se unem
numa única voz: Criança!
domingo, 23 de dezembro de 2012
Diz Que Fui Por Aí
Zé Keti
Se alguém perguntar por mim
diz que fui por aí
levando um violão debaixo do braço
em qualquer esquina eu paro
em qualquer botequim eu entro
e se houver motivo
é mais um samba que eu faço
se quiserem saber se volto diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim
só depois que a saudade se afastar de mim
Tenho um violão pra me acompanhar
tenho muitos amigos eu sou popular
tenho a madrugada como companheira
a saudade me dói o meu peito me rói
eu estou na cidade eu estou na favela
eu estou por aí
sempre pensando nela
Você Não Entende Nada
Chico Buarque
Quando eu chego em casa nada me consola
você está sempre aflita
lágrimas nos olhos, de cortar cebola
você é tão bonita
Você traz a coca-cola eu tomo
você bota a mesa, eu como, eu como
eu como, eu como, eu como
Você
não está entendendo
quase nada do que eu digo
eu quero ir-me embora
eu quero é dar o fora
E quero que você venha comigo
e quero que você venha comigo
Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo neste apartamento
Você não acredita
Traz meu café com suita eu tomo
Bota a sobremesa eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como
Você
tem que saber que eu quero correr mundo
correr perigo
Eu quero é ir-me embora
eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
e quero que você venha comigo
Sambou... Sambou
Joyce
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gosta de samba muito mais do que de mim
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gosta de samba muito mais do que de mim
Quando ouviu bater o tamborim
Não quis mais saber de chá chá chá
Pra rock twist ela diz não
Porque gosta mesmo é de sambar
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gostar de samba muito mais do que de mim
Sambou sambou ou
Sambou ô ô ô ou ô
Sambou sambou ô
Sambou ô ô ô ou ô
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gosta de samba muito mais do que de mim
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gosta de samba muito mais do que de mim
Quando ouviu bater o tamborim
Não quis mais saber de chá chá chá
Pra rock twist ela diz não
Porque gosta mesmo é de sambar
Sambou sambou não descansou
Ficou zangada quando o dia clareou
Eu nunca vi sambar assim
Gostar de samba muito mais do que de mim
Sambou sambou ou
Sambou ô ô ô ou ô
Sambou sambou ô
Sambou ô ô ô ou ô
sábado, 22 de dezembro de 2012
Quero Ficar Com Você
Maria Bethânia
Quero ficar com você
E é tão fundo
Que eu posso dizer
Que o fim do mundo
Não vai chegar mais
Quero ficar com você
E é a glória
Do saber querer
Com longa história
Pra frente e pra trás
Não quero que o nosso amor seja um buraco no não
Mas sinal na trajetória da vida e da canção
Marca de queda e vitória na palma da mão
Sombra, memória e porvir do coração
Não deixe que o nosso amor seja um corisco no caos
Mas passos da liberdade pisando seus degraus
Feitos de momentos bons e de momentos maus
De descobertas, de ventos, velas, naus
Preciso Aprender A Ser Só
Maria Bethânia
Ah, se eu te pudesse fazer entender
Sem teu amor eu não posso viver
Que sem nós dois o que resta sou eu
Eu assim tão só
E eu precisoaprender a ser só
Poder dormir sem sentir teu amor
E ver que foi só um sonho e passou
Ah, o amor
Quando é demais ao findar leva a paz
Me entreguei sem pensar
Que a saudade existe e se vem
É tão triste, vê
Meus olhos choram a falta dos teus
Esses olhos que foram tão meus
Por Deus entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor
Por Deus entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor
Ah o amor
Quando é demais ao findar leva a paz
Me entreguei sem pensar
Que a saudade existe e se vem
É tão triste, vê
Meus olhos choram a falta dos teus
Esses olhos que foram tão meus
Por Deus entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Metades Inteiras
Flavia Barcellos de Passos
Conte-me verdades inteiras
Ou então mentiras enfeitadas
Mas não me venha com metades
Nem meia mentira
Nem meia verdade
Ou dá-me tudo
Ou não me dê nada!
Apresente-me todo o verso
Ou então toda a canção
Mas não me venha com meia estrofe
Não ouse me introduzir apenas ao refrão
Que venha com as vísceras e toda a vontade
E que inteiro seja o coração
Caso contrário, não se aproxime
Nem ao menos se mostre
Que eu prefiro a solidão!
Não gosto de metades
E não sou a metade também
Por isso, o que quero, quero inteiro
Quero completo e não parcial
Porque não vim a esse mundo para completar
Não vim para ser uma parte
Não vim para ser a metade
Ou para ser algo a ter que somar
Eu vim para não caber
É, assim mesmo como disse
Para não caber!!
E é por isso mesmo que transbordo...
Há Um Ruído De Asas Que Te É Próximo
Maria Teresa Horta
Os anjos alados
da memória
com as suas asas
de pérgula
e medronho
a voarem noite dentro,
pelo sonho
Serás de branco
despojada de tudo
à cabeceira
por detrás do meu ombro
anjo mudo
Serás de branco
despojada de tudo,
asas supostas
de ti
à minha beira
O pássaro cintilante
da tua nudez
(uma matriz calada)
Da tua nudez
Com os teus seios
de anjo
sob as asas
A tomares conta
da memória
És um pássaro – digo
És um pássaro
com penas
cintilantes
dos teus olhos
As tuas asas
de pétalas
tecidas com a luz
das penas
das asas que te crescem
Poisar um pouco
nos parapeitos
da memória
antes de recomeçar
o voo
de regresso a casa
Com as nossas asas
lúcidas:
translúcidas e pálidas
Deixa-me voar
por cima do teu
colo
até ir poisar
na tua alma
É a memória,
dos teus dedos pisados
nas asas dos meus ombros
Entrelaçados
Enlaçados
Como entranças
os sonhos
As tuas asas de prata
que atravessam a voar
o território
brando
das minhas lágrimas
Este
é o inconsciente
dos teus olhos
de águas postas – de águas sobrepostas
– rente
à meiga – à mansíssima
racha
do teu ventre
Em voo raso
perto da sua boca:
A ouvir a memória...
Há um ruido de
asas
que te é próximo
um odor a flor,
a framboesa
um sabor a leite
e a morango
numa uterina luz de penumbra acesa
Um pouco acima
dos teus olhos,
como um pássaro
a voar por dentro,
bem por dentro
do interior dos lábios...
do corpo
A parte que é
anjo
do teu corpo
e me procura a meio
da madrugada
Sobrevoando o lago
que é suposto
ser no meu sono
aquilo que calava
A parte que é
anjo
do teu corpo
e me visita
a meio da madrugada
descansando as asas
dos teus ombros,
a meu lado:
em cima da almofada
Voava,
com a memória
das asas
no sentido inverso
do silêncio
e do sono
Oiço atrás de mim,
o breve respirar
das tuas asas
– quase imperceptivel –
Um ligeiro arfar
Como a brisa a passar
por entre as casas.
domingo, 16 de dezembro de 2012
Não Vou Ficar
Teresa Cristina
Há muito tempo eu vivi calado
Mas agora resolvi falar
Chegou a hora, tem que ser agora
E com você não posso mais ficar
Não vou ficar, não (não, não)
Não posso mais ficar, não, não, não
Não posso mais ficar, não
Toda verdade deve ser falada
E não vale nada se enganar
Não tem mais jeito, tudo está desfeito
E com você não posso mais ficar
Não vou ficar, não (não, não)
Não posso mais ficar, não, não, não
Não posso mais ficar não
Pensando bem
Não vale a pena
Ficar tentando em vão
O nosso amor não tem mais condição
Não, não, não, não, não, não, não
Por isso resolvi agora
Lhe deixar de fora do meu coração
Com você não dá mais certo e ficar sozinho
É minha solução, é solução sim
Não tem mais solução, não, não, não
Não tem mais solução, não
Pensando bem
Não vale a pena
Ficar tentando em vão
O nosso amor não tem mais condição
Não, não, não, não, não, não, não
Por isso resolvi agora
Lhe deixar de fora do meu coração
Com você não dá mais certo e ficar sozinho
É minha solução, é solução sim
Não tem mais solução, não, não, não,
Não tem mais solução, não, não, não
Não tem mais solução não
sábado, 15 de dezembro de 2012
Arte Poética
Paul Verlaine
A Charles Morice
Antes de qualquer coisa, música
e, para isso, prefere o Ímpar
mais vago e mais solúvel no ar,
sem nada que pese ou que pouse.
E preciso também que não vás nunca
escolher tuas palavras em ambigüidade:
nada mais caro que a canção cinzenta
onde o Indeciso se junta ao Preciso.
São belos olhos atrás dos véus,
é o grande dia trêmulo de meio-dia,
é, através do céu morno de outono,
o azul desordenado das claras estrelas!
Porque nós ainda queremos o Matiz,
nada de Cor, nada a não ser o matiz!
Oh! O matiz único que liga
o sonho ao sonho e a flauta à trompa.
Foge para longe da Piada assassina,
do Espírito cruel e do Riso impuro
que fazem chorar os olhos do Azul
e todo esse alho de baixa cozinha!
Toma a eloqüência e torce-lhe o pescoço!
Tu farás bem, já que começaste,
em tornar a rima um pouco razoável.
Se não a vigiarmos, até onde ela irá?
Oh! Quem dirá os malefícios da Rima?
Que criança surda ou que negro louco
nos forjou esta jóia barata
que soa oca e falsa sob a lima?
Ainda e sempre, música!
Que teu verso seja um bom acontecimento
esparso no vento crispado da manhã
que vai florindo a hortelã e o timo...
E tudo o mais é só literatura.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Elogio da Dialética
Bertolt Brecht
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante. Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar!
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De nós.
De quem depende a sua destruição? Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".
domingo, 2 de dezembro de 2012
Eros & Psique
Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Canção do Vento
Manuel Bandeira
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de frutos, de flores, de folhas
O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de aromas, de estrelas, de cânticos
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
de tudo
Tu Que Me Deste O Teu Cuidado...
Manuel Bandeira
Tu que me deste o teu carinho
E que me deste o teu cuidado,
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe ao pássaro cansado,
O meu desejo incontentado.
Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão.
Sê compassiva e benfazeja.
Dá-lhe o melhor que ele deseja:
Teu grave e meigo coração.
Sê compassiva. Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa,
Atende à sua dor sombria:
Perdoa o mal que desvaria
E traz os olhos rasos de água.
Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a sua vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.
E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungido algum espinho,
Cinge-a ao teu peito angustiado.
E sentirás o meu carinho.
E sentirás o meu cuidado.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Mulher
Florbela Espanca
I
Um ente de paixão e sacrifício,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração, sequer!
Sê forte, corajoso, não fraquejes
Na luta: sê em Vénus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e infame e os homens
Se te sentem gemer hão-de pisar-te!
Se à vezes tu fraquejas, pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;
E gritam então vis: "Olhem, vejam
É aquela a infame!" e apedrejam
a pobrezita, a triste, a desgraçada!
II
Ó Mulher! Como é fraca e como és forte!
Como sabes ser e desgraçada
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma estorce amargurada!
Quantas morrem saudosas duma image
Adorada que amaram doidamente!
Quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
A Vida É Copia Da Arte
Wally Salomão
Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto
Alucinado pelo destemor
De morrer antes
De ver diagramado este poema
Ou eu trago Horácio pra cá
Pra Macaé-de-Cima
Ou é imperativo traí-lo
E ao preceito latino de coisa alguma admirar
Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela
Nestes ermos cravar as tendas de Omar
Ler poesia como se mirasse uma flor de lótus
Em botão
Entreabrindo-se
Aberta
Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden
Agulhas imantadas & frutas frescas para a vida diária.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Quadro Negro
Lenine
No sub-imundo mundo sub-humano
Aos montes, sob as pontes, sob o sol
Sem ar, sem horizonte, no infortúnio
Sem luz no fim do túnel, sem farol
Sem-terra se transformam em sem-teto
Pivetes logo se tornam pixotes
Meninas, mini-xotas, mini-putas, de pequeninas tetas nos decotes
Quem vai pagar a conta? Quem vai lavar a cruz?
O último a sair do breu, acende a luz
No topo da pirâmide, tirânica
Estúpida, tapada minoria
Cultiva viva como a uma flor
A vespa vesga da mesquinharia
Na civilização eis a barbárie
É a penúria que se pronuncia
Com sua boca oca, sua cárie
Ou sua raiva e sua revelia
Quem vai pagar a conta? Quem vai lavar a cruz?
O último a sair do breu, acende a luz
O que prometeu não cumpriu
O fogo apagou, a luz extinguiu
No sub-imundo mundo sub-humano
Aos montes, sob as pontes, sob o sol
Sem ar, sem horizonte, no infortúnio
Sem luz no fim do túnel, sem farol
Sem-terra se transformam em sem-teto
Pivetes logo se tornam pixotes
Meninas, mini-xotas, mini-putas, de pequeninas tetas nos decotes
Quem vai pagar a conta? Quem vai lavar a cruz?
O último a sair do breu, acende a luz
No topo da pirâmide, tirânica
Estúpida, tapada minoria
Cultiva viva como a uma flor
A vespa vesga da mesquinharia
Na civilização eis a barbárie
É a penúria que se pronuncia
Com sua boca oca, sua cárie
Ou sua raiva e sua revelia
Quem vai pagar a conta? Quem vai lavar a cruz?
O último a sair do breu, acende a luz
O que prometeu não cumpriu
O fogo apagou, a luz extinguiu
domingo, 18 de novembro de 2012
A Perfeição
Clarice Lispector
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Logo Que Eu Acordo
Itamar Assumpção
Logo que eu acordo coloco meu pé direito
No chão do meu quarto beijo meu amor
Calço meu sapato primeiro meu pé direito
Dentro do meu quarto tem vaso com flor
Tem além de luz um fogão a gás
Três nenéns geladeira e muito mais
Tem um trem que circula num zás-trás
E mais cem barcos todos em um cais
Tem televisão Jesus Cristo na parede
Tem acordeon tem um caminhão
Tem um violão decorando outra parede
Muito papelão caixas de sabão
Tem armário tem beliche um aparelho de som
Tem aquário tem uma hélice
Tem um pau de macarrão
Tem um tanque e tem banheiro
Telefone extensão
Tem um carro de bombeiro tem o sol naquele vão
Logo que eu acordo primeiro meu pé direito
Logo que eu acordo beijo o meu amor...
sábado, 17 de novembro de 2012
Você
Mariana Siqueira
Não há nada nesse mundo que eu queira mais,
Não poderia desejar pra mim melhor homem
Meu coração pula do peito quando você está perto demais
Minhas pernas tremem, as palavras somem.
Fico boba, percoo fôlego, perco a conta
De o quanto eu te amo, do quanto você me faz feliz,
Como seu olhar me deixa tonta,
Como você pode ser tudo o que eu sempre quis?
Meu amor não rima bem,
Espero que isso não seja um problema.
É o mais belo sentimento que se tem,
Mas não consigo descrevê-lo em um só poema.
Precisaria de outros milhares de versos
Pra conseguir expressar meus sentimentos,
Já que eles estão todos dispersos
E você domina todos os meus pensamentos.
Colocar em palavras, as muitas sensações,
Tudo de bom que nós passamos juntos.
Estamos falando de dois corações
E de um amor maior que tudo.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Corpo Vadio
Nau
Nesse corpo vadio
Mora alguém que, quando você vai embora, sente tão só
Nesse corpo vadio
Chora um anjo louco...
E nessas horas de frio
Fecho os olhos, molho o travesseiro e começo a sonhar
Nessas horas de frio
Quero mais que o paraíso...
Me diga, que eu te sinto
E eu morro por você
Sussurra em meus ouvidos
O que você quer, tudo que eu tenho, além de mim...
Mora alguém que, quando você vai embora, sente tão só
Nesse corpo vadio
Chora um anjo louco...
Ah, e nessas horas de frio
Fecho os olhos, choro
Fecho os olhos, choro
E esse corpo vadio
Tão igual aos outros, um entre tantos
Me diga, que eu te sinto
E eu morro por você
Sussurra em meus ouvidos
O que você quer, tudo que eu tenho, além de mim...
Me diga, que eu te sinto
E eu morro por você
Sussurra em meus ouvidos
O que você quer, tudo que eu tenho, além de mim...
Juntos Outra Vez
Dani Black
Como assim?
Reacende o que há em nós
Depois sem olhar pra trás
Pega e vai embora...
Desta vez
Diz que por razões astrais
Que pelo meu tom de voz
Há outra pessoa...
E sumiu...
Você faz por merecer
Diga o que quis dizer
Com aquela história...
Eu, você
Somos como água e sal
Seja para bem ou mal
Juntos outra vez...
Como assim?
Somos o maior dos sóis
E apesar de tanta luz
Algo me atordoa...
Quando a sós
Apesar de tão fatais
Sinto que o destino impôs
E não houve escolha...
Quis fugir
Desde que você partiu
O meu coração previu
Que havia volta...
Temporal
A surpresa assim se fez
Quem diria, até que enfim
Juntos outra vez...
Juntos como eu esperei...
Juntos como eu esperei...
Juntos
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Sutil
Itamar Assumpção
Sendo fim também és
Tu és meio e começo
Sim e não, norte e sul
Direito avesso
Você me seduziu desde o inicio
Sendo assim porém fica mais difícil
E muita luz pra pouco túnel
E muita areia para o meu caminhãozinho
Meu bem eu morro de ciúmes até do sol
Que bronzeia você com carinho
Algo me diz pra ser sutil
Não faço idéia mas me resta um caminho
Pedir socorro teu perfume é fatal
Quanto as patas de um felino
Pode parecer incrível
Me deu na telha te dar meu coraçãozinho
Além de entregar meu telefone e o ramal
Ligues rapidinho
Ser feliz é bem possível
A lua cheia me reduz a pedacinhos
Eu viro prata, viro loba
Eu viro viro vampira
Viro menina
Esse Cara Sou Eu
Roberto Carlos
O cara que pensa em você toda hora
Que conta os segundos se você demora
Que está todo o tempo querendo te ver
Porque já não sabe ficar sem você
E no meio da noite te chama
Pra dizer que te ama
Esse cara sou eu
O cara que pega você pelo braço
Esbarra em quem for que interrompa seus passos
Está do seu lado pro que der e vier
O herói esperado por toda mulher
Por você ele encara o perigo
Seu melhor amigo
Esse cara sou eu
O cara que ama você do seu jeito
Que depois do amor você se deita em seu peito
Te acaricia os cabelos, te fala de amor
Te fala outras coisas, te causa calor
De manhã você acorda feliz
Num sorriso que diz
Esse cara sou eu
Esse cara sou eu
Eu sou o cara certo pra você
Que te faz feliz e que te adora
Que enxuga seu pranto quando você chora
Esse cara sou eu
Esse cara sou eu
O cara que sempre te espera sorrindo
Que abre a porta do carro quando você vem vindo
Te beija na boca, te abraça feliz
Apaixonado te olha e te diz
Que sentiu sua falta e reclama
Ele te ama
Esse cara sou eu
Esse cara sou eu
Esse cara sou eu
Esse cara sou eu
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
O Tempo
Eduardo Baqueiro
O tempo trouxe você
Porque aprendi ouvir
As ondas do mar
Que numa promessa muda
Prometeu você
Não disse quando
Nem como
Mas cumpriu sua promessa
Você chegou
Trazendo na bagagem
Toda carência
Todo amor
Contido no peito
Sorriso de menina
Malicia de mulher
Despertou-me
Apaixonei-me
Me perdi nos seus braços
Me encontrei nos seus carinhos
O tempo um dia vai te levar
Mas não sei quando
Nem como...
Não me preocupo
Pois o que importa
É o presente que vivo
ao teu lado
São momentos perfeitos
Que levarei sempre comigo
Sabendo que existe em
algum lugar
Alguém especial
Mas tão especial que um dia
Me fez feliz demais
Como nunca pude imaginar.
Fragmentos de Amor
Eduardo Baqueiro
Interessante nosso caso!
Nosso amor parece ter encontrado a pitada certa
O tempero no ponto exato,
Pois não é doce demais, tampouco salgado...
Ele é algo difícil de se explicar.
É como uma rosa que teima nascer entre pedras,
Desafiando o calor intenso e a falta d'água
Mas, depois de algum tempo, suas raízes encontraram solo fértil
Então, na calada da noite, cresceu e se tornou uma linda rosa...
Uma rosa que é rosa à noite e é azul de dia.
Um amor que cresceu sem se importar onde ia chegar
E chegou onde está, mais seguro, mais tranqüilo
mais maduro.
Um amor que une uma peixinha e um lobo
Um lobo que aprendeu a amar o mar
para poder chegar perto de sua amada!
Uma peixinha que, de teimosa, ensinou um lobo a amá-la
Estranhos os caminhos do amor!
Maravilhosos os efeitos deste amor dentro de nós!
Desejo a nós dois muito tempo para dividirmos,
Muito amor para gastar,
Muitos sorrisos e muitas gargalhadas,
Porque a vida, apesar de seus contratempos, é linda!
Muito mais linda com você junto de mim!
Com amor e carinho.
O Amor das Minhas Vidas...
Mariana Siqueira
Há tanto tempo que eu te busco nesse mundo
Como se fosse pra você ser meu,
Você é o meu sonho mais profundo
Meu coração bate junto ao seu.
Eu venho te buscando, te querendo
E um dia desses você pôde me ouvir
Minha alma feliz por estar te vendo
Desatou, e já não para de sorrir.
Viemos de reinos distantes
Já nos conhecemos antes de nascer,
Em outras vidas nós fomos amantes
E nos encontramos porque tinha de ser
Eu e você já nos amamos de outras vidas
E mesmo não lembrando
Acredito que houveram outras existências esquecidas
E que nelas você sempre acabou me encontrando.
Incompreendido
Aermo Wolf
Incompreendido sigo esse caminho tortuoso
O caminho da solidão é o meu caminho
Ninguém ao meu lado está
Não tenho amigos. Não tenho guias
Incompreendido, caminho, tropeço, não caio
Cabeça abaixada eu sigo
Por que as pessoas tem de julgar naturezas diferentes como a minha?
Por que tem de ser tão mesquinhas?
A dor aperta meu peito
Lágrimas aos meus olhos querem vir
Incompreendido sigo por esse caminho
Escuro o caminho está
Nada vejo, mas sigo
As risadas de outra hora me dão motivação para continuar
Almas pobres desprovidas de sentimentos
Almas mortas que a nada sentem cuja ganancia contaminou
Nada vejo, mas sinto e mesmo incompreendido sigo meu caminho
“Luz no fim do túnel”, não sei se encontrarei
Talvez não encontre e isso nenhuma preocupação me trás
Pois sei que mesmo incompreendido continuarei a seguir meu caminho.
sábado, 27 de outubro de 2012
A Distância
Erasmo Carlos
Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci
Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber
O que restou do nosso amor ficou
No tempo esquecido por você
Vivendo do que fomos ainda estou
Tanta coisa já mudou, só eu não te esqueci
Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber
Eu só queria lhe dizer que eu
Tentei deixar de amar não consegui
Se alguma vez você pensar em mim
Não se esqueça de lembrar que eu nunca te esqueci
Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber
Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber
Coração (Samba Anatômico)
Noel Rosa
Coração
Grande órgão propulsor
Transformador do sangue venoso em arterial
Coração
Não és sentimental
Mas entretanto dizem
Que és o cofre da paixão
Coração
Não estás do lado esquerdo
Nem tampouco do direito
Ficas no centro do peito - eis a verdade!
Tu és pro bem-estar do nosso sangue
O que a casa de correção
É para o bem da humanidade
Coração
De sambista brasileiro
Quando bate no pulmão
Lembra a batida do pandeiro
Eu afirmo
Sem nenhuma pretensão
Que a paixão faz dor no crânio
Mas não ataca o coração
Conheci
Um sujeito convencido
Com mania de grandeza
E instinto de nobreza
Que, por saber
Que o sangue azul é nobre
Gastou todo o seu cobre
Sem pensar no seu futuro
Não achando
Quem lhe arrancasse as veias
Onde corre o sangue impuro
Viajou a procurar
De norte a sul
Alguém que conseguisse
Encher-lhe as veias
Com azul de metileno
Pra ficar com sangue azul
Alma
Dani Black
Alma,
deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma,
superfície.
Alma,
deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma,da minha mão,
superfície
Easy,
fique bem easy, fique sem nem razão
Da superfície
livre
Fique sim, livre
Fique bem com razão ou não, aterrise
Alma,
isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar
não existe
Alma,
como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na superfície,
crise
Já acabou, livre
Já passou, o meu temor do seu medo
Sem motivo, riso...de manhã, riso de neném
A água já molhou a superfície
Alma,
daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
sobrevive
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples,
bem de leve a alma ja pousou, na superfície
domingo, 14 de outubro de 2012
Aprenda A Gostar De Você!
Mário Quintana
Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente,
a gostar de quem também gosta de você...
A idade vai chegando e, com o passar do tempo,
nossas prioridades na vida vão mudando...
A vida profissional, a monografia de final de curso,
as contas a pagar...
Mas uma coisa parece estar sempre presente...
A busca pela felicidade, com o amor da sua vida.
Desde pequenas ficamos nos perguntando
"quando será que vai chegar?"
E a cada nova paquera, vez ou outra nos pegamos na
dúvida "será que é ele?".
Como diz meu pai: "nessa idade tudo é definitivo",
pelo menos a gente sempre achava que era.
Cada namorado era o novo homem da sua vida.
Fazíamos planos, escolhíamos o nome dos filhos,
o lugar da lua-de-mel e, de repente...
PLAFT! Como num passe de mágica ele desaparecia,
fazendo criar mais expectativas a respeito "do próximo".
Você percebe que cair na guerra
quando se termina um namoro é muito natural,
mas que já não dura mais de três meses.
Agora, você procura melhor e começa a ser mais seletiva.
Procura um cara formado, trabalhador, bem resolvido,
inteligente, com aquele papo que a deixa sentada no bar
o resto da noite.
Você procura por alguém que cuide de você quando está doente,
que não reclame em trocar aquele churrasco dos amigos pelo
aniversário da sua avó, que jogue "imagem e ação"
e se divirta como uma criança,
que sorria de felicidade quando te olha,
mesmo quando você está de short,camiseta e chinelo.
A liberdade, ficar sem compromisso, sair sem dar satisfação,
já não tem o mesmo valor que tinha antes.
A gente inventa um monte de desculpas esfarrapadas, mas
continuamos com a procura incessante por uma pessoa legal,
que nos complete, e vice-versa.
Enquanto tivermos maquiagem e perfume, vamos à luta...
E haja dinheiro para manter a presença em todos os eventos da
cidade: churrasco, festinhas, boates na quinta-feira.
Sem falar na diversidade, que vai do Forró ao Beatles.
Mas o melhor dessa parte é se divertir com as amigas,
rir até doer barriga, fazer aqueles passinhos bregas de antigamente
e curtir o som...
Olhar para o teto, cantar bem alto aquela música que você adora.
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz
com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquele cara que você ama (ou acha que ama),
e que não quer nada com você,
definitivamente não é o homem da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e
principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar,
não quem você estava procurando,
mas quem estava procurando por você!
sábado, 13 de outubro de 2012
Momentos
Clarice Lispector
"Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre."
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Andar Com Fé
Gilberto Gil
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...(4x)
Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Oh! Oh!
Num pedaço de pão...
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh! Oh!
Na luz, na escuridão...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olêlê!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh Minina!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Oh! Oh!
No calor do verão...
A fé tá viva e sã
A fé também tá prá morrer
Oh! Oh!
Triste na solidão...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh Minina!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Oh! Oh!
A pé ou de avião...
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Oh! Oh!
Pelo sim, pelo não...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olêlê!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!...
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...
Olêlê, vamos lá!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...(4x)
domingo, 9 de setembro de 2012
Lágrimas Negras
Jorge Mautner
Na frente do cortejo
O meu beijo
Forte como o aço
Meu abraço
São poços de petróleo
A luz negra dos seus olhos
Lágrimas negras caem, saem, dóem
Por entre flores e estrelas
Você usa uma delas como brinco
Pendurada na orelha
Astronauta da saudade
Com a boca toda vermelha
Lágrimas negras caem, saem, dóem
São como pedras de moinhos
Que moem, roem, moem
E você baby vai, vem, vai
E você baby vem, vai, vem
Belezas são coisas acesas por dentro
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Lágrimas negras caem, saem, doem
Vá Cuidar Da Sua Vida!
Itamar Assumpção
Vá cuidar da sua vida
Diz o dito popular
Quem cuida da vida alheia
Da sua não pode cuidar
Crioulo cantando samba
Era coisa feia
Esse é negro é vagabundo
Joga ele na cadeia
Hoje o branco tá no samba
Quero ver como é que fica
Todo mundo bate palma
Quando ele toca cuíca
Vá cuidar...
Negro jogando pernada
Negro jogando rasteira
Todo mundo condenava
Uma simples brincadeira
E o negro deixou de tudo
Acreditou na besteira
Hoje só tem gente branca
Na escola de capoeira
Vá cuidar...
Negro falava de umbanda
Branco ficava cabreiro
Fica longe desse negro
Esse negro é feiticeiro
Hoje o preto vai à missa
E chega sempre primeiro
O branco vai pra macumba
Já é Babá de terreiro
Vá cuidar...
Eclipse Em Meia Lua
Arrigo Barnabé
Certo dia houve uma noite
De total e profunda escuridão
Numa gruta da floresta
O pavor tinha um som de berimbau
Joelson tocava
Tremia e não calava
Chamando a morte pro seu chão
Xamã de seu próprio medo
Só sabia que tinha que viver
Se o combate era o segredo
Mataria esse medo de morrer
A lua fugida
Levou a luz da vida
Capoeira na escuridão
Só um olho clareava
No estalo da pedra com o facão
E o negro soluçava
Enfrentando o escuro do clarão
O corte no dedo
Levou embora o medo
Tornando toda noite azul
sábado, 1 de setembro de 2012
Trampolim
José Miguel Wisnik
Põe os pés no chão e toca o ar Trampolim
Bate no tambor de onde vens
Só de ser quem és inventa o amor
Só de ser quem és inventa o amor
Sem dizer palavra
Pobre coração mergulhador, ai de mim
Beira de que mar eu ancorei
Se for pedir perdão, já perdoei
Se for pedir perdão, já perdoei
Pode se alegrar
Põe os pés no chão e toca o ar Trampolim
Põe os pés no chão e toca o ar Trampolim
Bate no tambor de onde vens
Só de ser quem és inventa o amor
Só de ser quem és inventa o amor
Sem dizer palavra
Pobre coração mergulhador, ai de mim
Beira de que mar eu ancorei
Se for pedir perdão, já perdoei
Se for pedir perdão, já perdoei
Pode se alegrar
Põe os pés no chão e toca o ar Trampolim
Insônia
Líria Porto
A boca escancarada da noite
os urros do silêncio
as teclas mudas
não tilintam os cristais
não estilhaçam a vidraça
os amantes não sussurram
não há sinos de igreja
o mundo acabou
o relógio dorme
o tempo não passa
onde estão os latidos
os galos os gritos
os olhos do sol?
na cama imensa
o corpo exausto
o vazio da tua ausência
e os mil anos dessa noite
que me engole
que me vomita.
A Poesia do Perdão
Daniel S. Leite
De todas as grandes virtudes,
que fazem a vida valer a pena
faz o débil vencer as vicissitudes,
enobrece a alma na paz serena;
está a virtude divina do perdão,
que apaga da memória a ofensa
mantém aberta a porta do coração
faz renascer a amizade intensa.
Perdoar para ser perdoado,
essa é a lei, a divina exigência.
Doce ventura de quem foi humilhado.
Virtude do amor em evidência.
Não há poesia na vingança,
não há saúde no ódio.
Na decisão do perdão a esperança.
Na indecisão do coração o opróbrio.
Perdoar para amar é a regra da bravura.
O verdadeiro herói dessa vida obscura.
Amar para perdoar, essa é a premissa.
A bem-aventurança. A eterna conquista.
Guardar rancor, ira ou mágoa,
excluir do coração a pessoa amada.
Se fechar para antigos amigos,
é se condenar a eternos perigos.
O amor nos faz cativos do perdão.
E o perdão faz festivo o coração.
Aumenta e faz os anos de vida,
ser uma eterna primavera florida.
O perdão nos faz fecundos.
Habilita a alma destemida.
Renova a vida em segundos,
santifica na eterna partida.
Amigo, vida é tão passageira e fugaz,
como a sombra que se desfaz.
Aqui e agora, tens a oportunidade de se doar,
Amigos e inimigos aprender a amar.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Minha Namorada
Vinícius de Morais
Meu poeta eu hoje estou contente
Todo mundo de repente ficou lindo
Ficou lindo de morrer
Eu hoje estou me rindo
Nem eu mesma sei de que
Porque eu recebi
Uma cartinhazinha de você
Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.
Meu poeta eu hoje estou contente
Todo mundo de repente ficou lindo
Ficou lindo de morrer
Eu hoje estou me rindo
Nem eu mesma sei de que
Porque eu recebi
Uma cartinhazinha de você
Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Queixas Noturnas
Augusto dos Anjos
Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh'alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!
Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.
O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!
Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz.
Na ânsia incoercível de roubar a luz.
Estou à espera de que o Sol desponte!
Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais.
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!
A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate.
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!
E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação...
É a luta, é o prédio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!
Parai essas lutas, uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem,
Os pobres braços do imortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.
E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
O Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!
E natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.
Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!
Sobre histórias de amor o interrogar-me
E vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.
Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!
Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!
Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!
Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Diz a este monstro que eu fugi de casa!
Quem foi que viu a minha Dor chorando?!
Saio. Minh'alma sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!
Não trago sobre a túnica fingida
As insígnias medonhas do infeliz
Como os falsos mendigos de Paris
Na atra rua de Santa Margarida.
O quadro de aflições que me consomem
O próprio Pedro Américo não pinta...
Para pintá-lo, era preciso a tinta
Feita de todos os tormentos do homem!
Como um ladrão sentado numa ponte
Espera alguém, armado de arcabuz.
Na ânsia incoercível de roubar a luz.
Estou à espera de que o Sol desponte!
Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde.
As minhas roupas, quero até rompê-las!
Quero, arrancado das prisões carnais.
Viver na luz dos astros imortais,
Abraçado com todas as estrelas!
A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate.
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!
E eu luto contra a universal grandeza
Na mais terrível desesperação...
É a luta, é o prédio enorme, é a rebelião
Da criatura contra a natureza!
Parai essas lutas, uma vida é pouca
Inda mesmo que os músculos se esforcem,
Os pobres braços do imortal se torcem
E o sangue jorra, em coalhos, pela boca.
E muitas vezes a agonia é tanta
Que, rolando dos últimos degraus,
O Hércules treme e vai tombar no caos
De onde seu corpo nunca mais levanta!
E natural que esse Hércules se estorça,
E tombe para sempre nessas lutas,
Estrangulado pelas rodas brutas
Do mecanismo que tiver mais força.
Ah! Por todos os séculos vindouros
Há de travar-se essa batalha vã
Do dia de hoje contra o de amanhã,
Igual à luta dos cristãos e mouros!
Sobre histórias de amor o interrogar-me
E vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.
O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes.
Hoje é amargo tudo quanto eu gosto;
A bênção matutina que recebo...
E é tudo: o pão que como, a água que bebo,
O velho tamarindo a que me encosto!
Vou enterrar agora a harpa boêmia
Na atra e assombrosa solidão feroz
Onde não cheguem o eco duma voz
E o grito desvairado da blasfêmia!
Que dentro de minh'alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!
Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Diz a este monstro que eu fugi de casa!
A Obsessão Do Sangue
Augusto dos Anjos
Acordou, vendo sangue... — Horrível! O osso
Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. olhou-se no espelho. Era tão moço,
Ah! certamente não podia ser!
Levantou-se. E eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Acordou, vendo sangue... — Horrível! O osso
Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. olhou-se no espelho. Era tão moço,
Ah! certamente não podia ser!
Levantou-se. E eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Bailarina
Jessyswan
Anjo sem asas
dançando suavemente
linda bailarina
gira contente.
Se equilibra na sapatilha
milagre ou esforço??
linda bailarina
mexe o corpo.
Voando literalmente
com sua roupa delicada
somente uma bailarina
que não pensava em nada.
Anjo caído,
por que estás chorando?
não é nada
só estou dançando.
Pássaro humano ou anjo caído
ciência ou religião?
linda bailarina
pula saindo do chão.
Asas nos pés
força de vontade
linda bailarina
traz a felicidade.
(só uma prévia,não tinha nada pra fazer)
Anjo sem asas
dançando suavemente
linda bailarina
gira contente.
Se equilibra na sapatilha
milagre ou esforço??
linda bailarina
mexe o corpo.
Voando literalmente
com sua roupa delicada
somente uma bailarina
que não pensava em nada.
Anjo caído,
por que estás chorando?
não é nada
só estou dançando.
Pássaro humano ou anjo caído
ciência ou religião?
linda bailarina
pula saindo do chão.
Asas nos pés
força de vontade
linda bailarina
traz a felicidade.
(só uma prévia,não tinha nada pra fazer)
sexta-feira, 20 de julho de 2012
O Esquecimento
Morgana Osodrac
Tu que choras sobre um túmulo mórbido
E na madrugada lamentas a morte
E nada acalenta o teu sofrimento sórdido
Que faz sucumbi a própria sorte.
Tu que já não sentes a suavidade sufocante
Nem o pranto que na face pálida rola
Só a dor e o sofrimento angustiante
Pois é a sua alma sombria que hoje chora.
Eu, enfim, velo por seu livramentO
Mas preciso pagar pelos meus pecados
Não quero fazer julgamentos
Pois o meu espírito ainda não foi exorcizado.
Tu que choras sobre um túmulo mórbido
E na madrugada lamentas a morte
E nada acalenta o teu sofrimento sórdido
Que faz sucumbi a própria sorte.
Tu que já não sentes a suavidade sufocante
Nem o pranto que na face pálida rola
Só a dor e o sofrimento angustiante
Pois é a sua alma sombria que hoje chora.
Eu, enfim, velo por seu livramentO
Mas preciso pagar pelos meus pecados
Não quero fazer julgamentos
Pois o meu espírito ainda não foi exorcizado.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Durma Noite Sem Sono
Raf Dono
Dorme noite vazia
foge o drama da terra adormecida
sopre o doce em sua face
feche seus olhos agora
nesta noite do cavalgar
Quero mais é te encontrar no mar
quero mais é te levar para as dunas do vale morto
quero mais é te afogar neste abismo cheio de sono
Dorme noite vazia
foge o drama da terra adormecida
sopre o doce em sua face
feche seus olhos agora
nesta noite do cavalgar
Quero mais é te encontrar no mar
quero mais é te levar para as dunas do vale morto
quero mais é te afogar neste abismo cheio de sono
terça-feira, 17 de julho de 2012
Na Última Morada
Aermo Wolf
Uma noite fria escura e sombria
Como gosto
Nada a fazer em minha morada
Sair decido
Vagando desolado pelas ruas escuras
Ruídos distantes de veículos automotivos escuto
Mantenham distância, por favor, a ninguém quero ver.
Tarde da noite está, por isso decidi me aventurar.
Como uma ave noturna, percorro as ruas
Não voo, apenas em meus pensamentos
As ruas desoladas eu percorro
Os moradores tão bons e probos dormindo devem estar
Continuo.
Ao longe uma morada diferente avisto
A última morada dos infelizes que por este mundo passaram
Por que não? Aquele lugar quero visitar
Adentro.
Caminho sem rumo
Túmulos por todos os lados
Procuro alguma coisa?
Observo
Nada vejo
Um ruído escuto
Querem os mortos comunicação?
Talvez sim. Talvez Não.
Mover-me? Não tenho vontade
Agradável aqui está.
Paro.
Nada vejo.
Pergunto: Alguém aí está?
Nada escuto
Nada escuto
Nada vejo
Nada sinto
Nada faço. Apenas olho o ser imaterial que à minha frente está.
Uma noite fria escura e sombria
Como gosto
Nada a fazer em minha morada
Sair decido
Vagando desolado pelas ruas escuras
Ruídos distantes de veículos automotivos escuto
Mantenham distância, por favor, a ninguém quero ver.
Tarde da noite está, por isso decidi me aventurar.
Como uma ave noturna, percorro as ruas
Não voo, apenas em meus pensamentos
As ruas desoladas eu percorro
Os moradores tão bons e probos dormindo devem estar
Continuo.
Ao longe uma morada diferente avisto
A última morada dos infelizes que por este mundo passaram
Por que não? Aquele lugar quero visitar
Adentro.
Caminho sem rumo
Túmulos por todos os lados
Procuro alguma coisa?
Observo
Nada vejo
Um ruído escuto
Querem os mortos comunicação?
Talvez sim. Talvez Não.
Mover-me? Não tenho vontade
Agradável aqui está.
Paro.
Nada vejo.
Pergunto: Alguém aí está?
Nada escuto
Nada escuto
Nada vejo
Nada sinto
Nada faço. Apenas olho o ser imaterial que à minha frente está.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Andar Com Fé
Silvia Schmidt
Andar com fé
é saber que cada dia é um recomeço,
é ter certeza que os milagres acontecem
e que os sonhos podem se realizar.
Andar com fé
é saber que temos asas invisíveis,
é fazer pedidos a estrelas cadentes
e abrir as mãos para o céu.
Andar com fé
é olhar sem temor
as portas do desconhecido,
ter a inocência dos olhos da criança,
a lealdade do cão,
a beleza da mão estendida
para dar e receber.
Andar com fé
é usar a força e a coragem
que habitam dentro de nós
quando tudo parece acabado.
Andar com fé
é saber que temos tudo a nosso favor,
é compartilhar as bênçãos multiplicadas,
é saber que sempre seremos surpreendidos
com presentes do Universo,
é a certeza que o melhor sempre acontece
e que tudo aquilo que almejamos
está totalmente ao nosso alcance.
Basta só Andar com Fé !
Andar com fé
é saber que cada dia é um recomeço,
é ter certeza que os milagres acontecem
e que os sonhos podem se realizar.
Andar com fé
é saber que temos asas invisíveis,
é fazer pedidos a estrelas cadentes
e abrir as mãos para o céu.
Andar com fé
é olhar sem temor
as portas do desconhecido,
ter a inocência dos olhos da criança,
a lealdade do cão,
a beleza da mão estendida
para dar e receber.
Andar com fé
é usar a força e a coragem
que habitam dentro de nós
quando tudo parece acabado.
Andar com fé
é saber que temos tudo a nosso favor,
é compartilhar as bênçãos multiplicadas,
é saber que sempre seremos surpreendidos
com presentes do Universo,
é a certeza que o melhor sempre acontece
e que tudo aquilo que almejamos
está totalmente ao nosso alcance.
Basta só Andar com Fé !
sexta-feira, 13 de julho de 2012
O Farol do Fim Do Mundo
Roger Silva
Em uma ilha muito distante, em pleno mar do fim do mundo,
como é conhecido o estreito de Drake, onde o mar é sempre
agitado por tormentas e o vento ríspido e gélido proveniente
das regiões glaciais da Antártida, existiu há muito tempo atrás
um farol numa pequena ilha próxima a terra do fogo.
Aquele farol era o único naquelas paragens desérticas distantes
do resto do mundo. Era a luz daquele farol que em noites
de mar escarpado, trazia aos marinheiros que por ali vagavam,
a esperança de uma chegada segura no estreito, até a saída
do canal onde seguiriam em sua viagem rumoas águas do pacífico.
No farol viveu por muito tempo um faroleiro juntamente com
sua família – sua mulher e um filho de pouco mais de cinco anos.
Anos após anos seguidos em uma rotina imutável, vendo passar
no horizonte distante, os navios
errantes e o mar impiedoso e atroz.
O farol nunca falhava. Tormenta após tormenta ele sempre estava lá,
emitindo sua luz âmbar em todas as direções daquele horizonte sempre
cinzento, encoberto por neblinas densas. Mais anos e anos
se passaram e um dia a mulher do faroleiro, na varanda do farol,
com os olhos voltados em um ponto qualquer do grande mar, enquanto
dormiam seu marido e filho, desceu até a pequena praia que ali havia,
e olhando compenetrada o gigante gelado, tomou-o pelo jardim de sua
casa que quando menina lá morava, e que agora sua mente a trazia de
volta, e no mar entrou, para o jardim voltou e de lá nunca mais saiu.
Seu esposo e filho nunca mais retornaram a vê-la.
Os anos continuaram vindo, lentos e infalíveis.
Até que em certo momento
alguma coisa pareceu ter acontecido.
O tempo era sempre lento, e a vida
no farol era como um quadro pintado, parecia não mudar com o tempo.
Era sempre a mesma imagem, o mesmo retrato. Mas um dia parece que
a ti, senhora, que reencontraste o lar
Em uma ilha muito distante, em pleno mar do fim do mundo,
como é conhecido o estreito de Drake, onde o mar é sempre
agitado por tormentas e o vento ríspido e gélido proveniente
das regiões glaciais da Antártida, existiu há muito tempo atrás
um farol numa pequena ilha próxima a terra do fogo.
Aquele farol era o único naquelas paragens desérticas distantes
do resto do mundo. Era a luz daquele farol que em noites
de mar escarpado, trazia aos marinheiros que por ali vagavam,
a esperança de uma chegada segura no estreito, até a saída
do canal onde seguiriam em sua viagem rumoas águas do pacífico.
No farol viveu por muito tempo um faroleiro juntamente com
sua família – sua mulher e um filho de pouco mais de cinco anos.
Anos após anos seguidos em uma rotina imutável, vendo passar
no horizonte distante, os navios
errantes e o mar impiedoso e atroz.
O farol nunca falhava. Tormenta após tormenta ele sempre estava lá,
emitindo sua luz âmbar em todas as direções daquele horizonte sempre
cinzento, encoberto por neblinas densas. Mais anos e anos
se passaram e um dia a mulher do faroleiro, na varanda do farol,
com os olhos voltados em um ponto qualquer do grande mar, enquanto
dormiam seu marido e filho, desceu até a pequena praia que ali havia,
e olhando compenetrada o gigante gelado, tomou-o pelo jardim de sua
casa que quando menina lá morava, e que agora sua mente a trazia de
volta, e no mar entrou, para o jardim voltou e de lá nunca mais saiu.
Seu esposo e filho nunca mais retornaram a vê-la.
Os anos continuaram vindo, lentos e infalíveis.
Até que em certo momento
alguma coisa pareceu ter acontecido.
O tempo era sempre lento, e a vida
no farol era como um quadro pintado, parecia não mudar com o tempo.
Era sempre a mesma imagem, o mesmo retrato. Mas um dia parece que
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Poema Negro
Augusto dos Anjos
A Santos Neto
Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Para onde vou (o mundo inteiro o nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota!
A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.
Em vão com o grito do meu peito impreco!
Dos brados meus ouvindo apenas o eco,
Eu torço os braços numa angústia douda
E muita vez, à meia-noite, rio
Sinistramente, vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!
É a Morte — esta carnívora assanhada —
Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho, come...
— Faminta e atra mulher que, a 1 de janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!
Nesta sombria análise das cousas,
Corro. Arranco os cadáveres das lousas
E as suas partes podres examino. . .
Mas de repente, ouvindo um grande estrondo,
Na podridão daquele embrulho hediondo
Reconheço assombrado o meu Destino!
Surpreendo-me, sozinho, numa cova.
Então meu desvario se renova...
Como que, abrindo todos os jazigos,
A Morte, em trajos pretos e amarelos,
Levanta contra mim grandes cutelos
E as baionetas dos dragões antigos!
E quando vi que aquilo vinha vindo
Eu fui caindo como um sol caindo
De declínio em declínio; e de declínio
Em declínio, com a gula de uma fera,
Quis ver o que era, e quando vi o que era,
Vi que era pó, vi que era esterquilínio!
Chegou a tua vez, oh! Natureza!
Eu desafio agora essa grandeza,
Perante a qual meus olhos se extasiam...
Eu desafio, desta cova escura,
No histerismo danado da tortura
Todos os monstros que os teus peitos criam.
Tu não és minha mãe, velha nefasta!
Com o teu chicote frio de madrasta
Tu me açoitaste vinte e duas vezes...
Por tua causa apodreci nas cruzes,
Em que pregas os filhos que produzes
Durante os desgraçados nove meses!
Semeadora terrível de defuntos,
Contra a agressão dos teus contrastes juntos
A besta, que em mim dorme, acorda em berros
Acorda, e após gritar a última injúria,
Chocalha os dentes com medonha fúria
Como se fosse o atrito de dois ferros!
Pois bem! Chegou minha hora de vingança.
Tu mataste o meu tempo de criança
E de segunda-feira até domingo,
Amarrado no horror de tua rede,
Deste-me fogo quando eu tinha sede...
Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo!
Súbito outra visão negra me espanta!
Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.
A treva invade o obscuro orbe terrestre.
No Vaticano, em grupos prosternados,
Com as longas fardas rubras, os soldados
Guardam o corpo do Divino Mestre.
Como as estalactites da caverna,
Cai no silêncio da Cidade Eterna
A água da chuva em largos fios grossos...
De Jesus Cristo resta unicamente
Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente
Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!
Não há ninguém na estrada da Ripetta.
Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,
As luzes funerais arquejam fracas...
O vento entoa cânticos de morte.
Roma estremece! Além, num rumor forte,
Recomeça o barulho das matracas.
A desagregação da minha idéia
Aumenta. Como as chagas da morféa
O medo, o desalento e o desconforto
Paralisam-se os círculos motores.
Na Eternidade, os ventos gemedores
Estão dizendo que Jesus é morto!
Não! Jesus não morreu! Vive na serra
Da Borborema, no ar de minha terra,
Na molécula e no átomo... Resume
A espiritualidade da matéria
E ele é que embala o corpo da miséria
E faz da cloaca uma urna de perfume.
Na agonia de tantos pesadelos
Uma dor bruta puxa-me os cabelos,
Desperto. É tão vazia a minha vida!
No pensamento desconexo e falho
Trago as cartas confusas de um baralho
E um pedaço de cera derretida!
Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme.
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala,
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.
Meu coração, como um cristal, se quebre
O termômetro negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa,
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!
Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.
A Santos Neto
Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Para onde vou (o mundo inteiro o nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota!
A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.
Em vão com o grito do meu peito impreco!
Dos brados meus ouvindo apenas o eco,
Eu torço os braços numa angústia douda
E muita vez, à meia-noite, rio
Sinistramente, vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!
É a Morte — esta carnívora assanhada —
Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho, come...
— Faminta e atra mulher que, a 1 de janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!
Nesta sombria análise das cousas,
Corro. Arranco os cadáveres das lousas
E as suas partes podres examino. . .
Mas de repente, ouvindo um grande estrondo,
Na podridão daquele embrulho hediondo
Reconheço assombrado o meu Destino!
Surpreendo-me, sozinho, numa cova.
Então meu desvario se renova...
Como que, abrindo todos os jazigos,
A Morte, em trajos pretos e amarelos,
Levanta contra mim grandes cutelos
E as baionetas dos dragões antigos!
E quando vi que aquilo vinha vindo
Eu fui caindo como um sol caindo
De declínio em declínio; e de declínio
Em declínio, com a gula de uma fera,
Quis ver o que era, e quando vi o que era,
Vi que era pó, vi que era esterquilínio!
Chegou a tua vez, oh! Natureza!
Eu desafio agora essa grandeza,
Perante a qual meus olhos se extasiam...
Eu desafio, desta cova escura,
No histerismo danado da tortura
Todos os monstros que os teus peitos criam.
Tu não és minha mãe, velha nefasta!
Com o teu chicote frio de madrasta
Tu me açoitaste vinte e duas vezes...
Por tua causa apodreci nas cruzes,
Em que pregas os filhos que produzes
Durante os desgraçados nove meses!
Semeadora terrível de defuntos,
Contra a agressão dos teus contrastes juntos
A besta, que em mim dorme, acorda em berros
Acorda, e após gritar a última injúria,
Chocalha os dentes com medonha fúria
Como se fosse o atrito de dois ferros!
Pois bem! Chegou minha hora de vingança.
Tu mataste o meu tempo de criança
E de segunda-feira até domingo,
Amarrado no horror de tua rede,
Deste-me fogo quando eu tinha sede...
Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo!
Súbito outra visão negra me espanta!
Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.
A treva invade o obscuro orbe terrestre.
No Vaticano, em grupos prosternados,
Com as longas fardas rubras, os soldados
Guardam o corpo do Divino Mestre.
Como as estalactites da caverna,
Cai no silêncio da Cidade Eterna
A água da chuva em largos fios grossos...
De Jesus Cristo resta unicamente
Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente
Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!
Não há ninguém na estrada da Ripetta.
Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,
As luzes funerais arquejam fracas...
O vento entoa cânticos de morte.
Roma estremece! Além, num rumor forte,
Recomeça o barulho das matracas.
A desagregação da minha idéia
Aumenta. Como as chagas da morféa
O medo, o desalento e o desconforto
Paralisam-se os círculos motores.
Na Eternidade, os ventos gemedores
Estão dizendo que Jesus é morto!
Não! Jesus não morreu! Vive na serra
Da Borborema, no ar de minha terra,
Na molécula e no átomo... Resume
A espiritualidade da matéria
E ele é que embala o corpo da miséria
E faz da cloaca uma urna de perfume.
Na agonia de tantos pesadelos
Uma dor bruta puxa-me os cabelos,
Desperto. É tão vazia a minha vida!
No pensamento desconexo e falho
Trago as cartas confusas de um baralho
E um pedaço de cera derretida!
Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme.
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala,
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.
Meu coração, como um cristal, se quebre
O termômetro negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa,
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!
Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.
Meu Interior
Aermo Wolf
Noite fria! Acordei!
Ambiente estranho
Sensação estranha
Estranho prazer
Em meu quarto não me encontrava
Susto!
Sobre uma tumba estava
Sob mim o mármore jazia frio
Quem repousaria ali?
Atenderia se eu chamasse?
Mas o seu nome não sei
Deixo como está
Como fui parar naquele lugar?
A resposta não se demorou
Em minha cama continuava
Apenas minha mente espreitava
Aquele sombrio lugar
Nada mais era que o meu negro interior
Semelhante ao repouso dos mortos
Mas que bem vivos estão!
Noite fria! Acordei!
Ambiente estranho
Sensação estranha
Estranho prazer
Em meu quarto não me encontrava
Susto!
Sobre uma tumba estava
Sob mim o mármore jazia frio
Quem repousaria ali?
Atenderia se eu chamasse?
Mas o seu nome não sei
Deixo como está
Como fui parar naquele lugar?
A resposta não se demorou
Em minha cama continuava
Apenas minha mente espreitava
Aquele sombrio lugar
Nada mais era que o meu negro interior
Semelhante ao repouso dos mortos
Mas que bem vivos estão!
Psicologia De Um Vencido
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Aos Poetas
Miguel Torga
Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.
E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.
Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.
Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.
Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.
E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.
Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da torre de Babel.
Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.
Fantasia
Carolina Salcides
Aqui o sol é mais bonito
Eu posso ser eu
Aqui os sonhos são possíveis
Aqui o amor é infinito.
Me deixa acreditar que é possível
Fazer um mundinho dentro desse mundão
Ter asas e cabelos ao vento
Ir e vir sem julgamento.
Coisa que não existe é coisa que não se sente
Eu vejo com o coração e nele cabe tudo
O que eu sinto é real
Minha imaginação é criadora.
Ela me deixa seguir no cinza, enxergando um arco-íris no chão...
Aqui o sol é mais bonito
Eu posso ser eu
Aqui os sonhos são possíveis
Aqui o amor é infinito.
Me deixa acreditar que é possível
Fazer um mundinho dentro desse mundão
Ter asas e cabelos ao vento
Ir e vir sem julgamento.
Coisa que não existe é coisa que não se sente
Eu vejo com o coração e nele cabe tudo
O que eu sinto é real
Minha imaginação é criadora.
Ela me deixa seguir no cinza, enxergando um arco-íris no chão...
terça-feira, 3 de julho de 2012
Hodiernus
Maíra DalMaz
Os rios estão distantes
e ainda oscilantes
cambaleamos
sem travessia
sem retórica
sem agrado
nossa maioria
não admirado
e habituado
sem romaria
vida de humano
de dor fulgurante
quão abundante
engano
Os rios estão distantes
e ainda oscilantes
cambaleamos
sem travessia
sem retórica
sem agrado
nossa maioria
não admirado
e habituado
sem romaria
vida de humano
de dor fulgurante
quão abundante
engano
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Das Dores De Oratórios
Zeca Baleiro
"Porque o amor é como fogo,
Se rompe a chama
Não há mais remédio"
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Se amasiou com a tal solidão do lugar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só ficou só
Ele a deixou
Só ficará... hum! Foi por amar!
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Noiva que um andor podia carregar.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Dor que a própria dor de Das Dores será.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Não virá?
Não.
Ele virá...
Não, não virá... hum! Foi no altar
Era um lugar
Era iô iô iô
Salvador Maria de Antonio e Pilar.
Era um lugar
Era iô iô iô
Seixo que gastou de tanto esperar.
Louca a gritar
Ela iô iô iô
Esquecer, quem há de esquecer
O sol dessa tarde... hum! Sol a gritar.
"Porque o amor é como fogo,
Se rompe a chama
Não há mais remédio"
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Se amasiou com a tal solidão do lugar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só ficou só
Ele a deixou
Só ficará... hum! Foi por amar!
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Noiva que um andor podia carregar.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Dor que a própria dor de Das Dores será.
Foi no altar
Que ela iô iô iô
Não virá?
Não.
Ele virá...
Não, não virá... hum! Foi no altar
Era um lugar
Era iô iô iô
Salvador Maria de Antonio e Pilar.
Era um lugar
Era iô iô iô
Seixo que gastou de tanto esperar.
Louca a gritar
Ela iô iô iô
Esquecer, quem há de esquecer
O sol dessa tarde... hum! Sol a gritar.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Vou Voltar
Dante Ozzetti
Vou voltar pra donde vim
Pra cancela canela alecrim
Primaveras passarins
Luz de velas colméias cupins
Vou voltar pra donde vim
Não tem celas lá tem serafins
Toda casa tem jardim
Com bromélias no pé de jasmim
Vou voltar pra donde vim
Adeus meu velho Itaim
Lá tem mais espaço ar
Pra respirar pra respirar pra respirar
Céu azul tem sol sempre a brilhar
Mutirão duendes fadas festas
Vai além do sossego
Pra namorar pra namorar pra namorar
Tem respeito pelo outro tem
Calma terço tem silencio
Tem paixão também
Pra suspirar pra suspirar pra suspirar
Vou voltar pra donde vim
Pra cancela canela alecrim
Primaveras passarins
Luz de velas colméias cupins
Vou voltar pra donde vim
Não tem celas lá tem serafins
Toda casa tem jardim
Com bromélias no pé de jasmim
Vou voltar pra donde vim
Adeus meu velho Itaim
Lá tem mais espaço ar
Pra respirar pra respirar pra respirar
Céu azul tem sol sempre a brilhar
Mutirão duendes fadas festas
Vai além do sossego
Pra namorar pra namorar pra namorar
Tem respeito pelo outro tem
Calma terço tem silencio
Tem paixão também
Pra suspirar pra suspirar pra suspirar
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina
Zeca Baleiro
Meu amor minha flor minha menina
Solidão não cura com aspirina
Tanto que eu queria o teu amor
Vem me trazer calor, fervor, fervura
Me vestir do terno da ternura
Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio
Isso e ócio
Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina
Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto
Minha cora minha coralina
mais que um goiás de amor carrego
destino de violeiro cego
Há mais solidão no aeroporto
Que num quarto de hotel barato
Antes o atrito que o contrato
Telefone não basta ao desejo
O que mais invejo é o que não vejo
O céu é azul, o mar também
Se bem que o mar as vezes muda,
Não suporto livros de auto-ajuda
Vem me ajudar, me dá seu bem
Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto
Meu amor minha flor minha menina
Solidão não cura com aspirina
Tanto que eu queria o teu amor
Vem me trazer calor, fervor, fervura
Me vestir do terno da ternura
Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio
Isso e ócio
Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina
Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto
Minha cora minha coralina
mais que um goiás de amor carrego
destino de violeiro cego
Há mais solidão no aeroporto
Que num quarto de hotel barato
Antes o atrito que o contrato
Telefone não basta ao desejo
O que mais invejo é o que não vejo
O céu é azul, o mar também
Se bem que o mar as vezes muda,
Não suporto livros de auto-ajuda
Vem me ajudar, me dá seu bem
Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto
terça-feira, 19 de junho de 2012
Canção do Astronauta
Arrigo Barnabé
Reza a lenda que ele deixou o seu planeta,
Natal a muito tempo atrás;
E ainda hoje viaja sozinho pelas estrelas
Há muitas naves pelo espaço,
Todas procuram o astronauta perdido.
Ele viaja sozinho,
Buscando a estrela mítica,
Galadriel!Galadriel!
È o veterano da armagura.
O vagabundo do espaço.
Nem Blade Runner nem Flash Gordon.
Nem Blade Runner nem Flash Gordon.
O astronauta perdido.
Reza a lenda que ele deixou o seu planeta,
Natal a muito tempo atrás;
E ainda hoje viaja sozinho pelas estrelas
Há muitas naves pelo espaço,
Todas procuram o astronauta perdido.
Ele viaja sozinho,
Buscando a estrela mítica,
Galadriel!Galadriel!
È o veterano da armagura.
O vagabundo do espaço.
Nem Blade Runner nem Flash Gordon.
Nem Blade Runner nem Flash Gordon.
O astronauta perdido.
sábado, 9 de junho de 2012
Depois
Marisa Monte
Depois de sonhar tantos anos,
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos,
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hey de ser feliz também
Depois
Depois de sonhar tantos anos,
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos,
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também
Depois de varar madrugada
Esperando por nada
De arrastar-me no chão
Em vão
Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também
Nós dois
Já tivemos momentos
Mas passou nosso tempo
Não podemos negar
Foi bom
Nós fizemos histórias
Pra ficar na memória
E nos acompanhar
Quero que você viva sem mim
Eu vou conseguir também
Depois de aceitarmos os fatos
Vou trocar seus retratos pelos de um outro alguém
Meu bem
Vamos ter liberdade
Para amar à vontade
Sem trair mais ninguém
Quero que você seja feliz
Hey de ser feliz também
Depois
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Aprendiz de Feiticeiro
Itamar Assumpção
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendi quando criança que além de tudo
Balança
Esse nosso mundo cão
Aprendi que quem não dança, já dançou na sua infância
Senão rock foi baião
Aprendi da importância de não dar muita importância
Ficar com os meus pés no chão
Aprendi que viver cansa, mesmo vivendo na França
Mesmo indo de avião
Aprendi que a desavença é por que sempre
Alguém pensa
Que ninguém mais tem razão
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendi que tudo passa, tomando chá ou cachaça
Tomando champanhe ou não
Aprendi que a descrença, a desconfiança e a doença
São partes da maldição
Aprendi que a ignorância, a sordidez e a ganância
São lavas desse vulcão
Aprendi que essa fumaça a minha janela embaça
Por fora, por dentro, não
Aprendi tetra depressa que a taça do mundo é nossa
E que São Paulo é meu sertão
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendi quando criança que além de tudo
Balança
Esse nosso mundo cão
Aprendi que quem não dança, já dançou na sua infância
Senão rock foi baião
Aprendi da importância de não dar muita importância
Ficar com os meus pés no chão
Aprendi que viver cansa, mesmo vivendo na França
Mesmo indo de avião
Aprendi que a desavença é por que sempre
Alguém pensa
Que ninguém mais tem razão
Aprendiz de feiticeiro
Aprendiz de feiticeiro
Aprendi que tudo passa, tomando chá ou cachaça
Tomando champanhe ou não
Aprendi que a descrença, a desconfiança e a doença
São partes da maldição
Aprendi que a ignorância, a sordidez e a ganância
São lavas desse vulcão
Aprendi que essa fumaça a minha janela embaça
Por fora, por dentro, não
Aprendi tetra depressa que a taça do mundo é nossa
E que São Paulo é meu sertão
Aprendiz de feiticeiro
sábado, 26 de maio de 2012
Meu Guarda-Chuva
Dani Black
Muito prazer,
eu vim aqui me expressar
e pra voce
musica boa eu vou mandar
Muito prazer,
eu vim aqui me expressar
e pra voce
musica boa eu vou mandar
Mais quando eu comecei a gostar de voce
voce me abandonou
e agora chora
que é bom chorar que eu quero ver
vai começar a chover
só eu tenho um guarda-chuva
advinha quem vai se molhar?
quem vai se molhar é voce
e tambem pode chorar que eu nao corro atrás
que no meu guarda-chuva eu nao te levo mais
Muito prazer,
eu vim aqui me expressar
e pra voce
musica boa eu vou mandar
Muito prazer,
eu vim aqui me expressar
e pra voce
musica boa eu vou mandar
Mais quando eu comecei a gostar de voce
voce me abandonou
e agora chora
que é bom chorar que eu quero ver
vai começar a chover
só eu tenho um guarda-chuva
advinha quem vai se molhar?
quem vai se molhar é voce
e tambem pode chorar que eu nao corro atrás
que no meu guarda-chuva eu nao te levo mais
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Mulher
Gabriel Fernando Ribeiro Gripp
Escalando uma
montanha
Com o medo a me
acompanhar
Sigo a risca a
façanha
De ao topo chegar...
Com as pernas
sempre a tremer
Sigo firme e forte
Sem jamais
estremecer!
E chegando ao topo
Vejo a recompensa
De que tudo posso
olhar
Olhar para a imensa
vista
Sem me cansar! ...
Escalando uma
montanha
Com o medo a me
acompanhar
Sigo a risca a
façanha
De ao topo chegar...
Com as pernas
sempre a tremer
Sigo firme e forte
Sem jamais
estremecer!
E chegando ao topo
Vejo a recompensa
De que tudo posso
olhar
Olhar para a imensa
vista
Sem me cansar! ...
segunda-feira, 7 de maio de 2012
É Poesia
Cacildo Silva
Quando a saudade aperta o coração,
Mas te conformas.
Quando ao ficares só te sentes forte,
Sem solidão.
Quando a imaginação te faz planos,
E o faz bem.
Quando sentes o aroma, são, da vida,
É, dela, a flor.
Quando vês que é sincero o que sentes,
É Poesia.
Quando a saudade aperta o coração,
Mas te conformas.
Quando ao ficares só te sentes forte,
Sem solidão.
Quando a imaginação te faz planos,
E o faz bem.
Quando sentes o aroma, são, da vida,
É, dela, a flor.
Quando vês que é sincero o que sentes,
É Poesia.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Depois De Tudo Te Amarei
Pablo Neruda
Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.
Perto de mim com teus hábitos,
teu colorido e tua guitarra
como estão juntos os países
nas lições escolares
e duas comarcas se confundem
e há um rio perto de um rio
e crescem juntos dois vulcões.
Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é tua ausência
e é cor de argila a lua
na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pedras pavorosas
pode marchar com quatro pés
e quatro lábios, a ternura.
Porque sem sair do presente
que é um anel delicado
tocamos a areia de ontem
e no mar ensina o amor
um arrebatamento repetido.
Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.
Perto de mim com teus hábitos,
teu colorido e tua guitarra
como estão juntos os países
nas lições escolares
e duas comarcas se confundem
e há um rio perto de um rio
e crescem juntos dois vulcões.
Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é tua ausência
e é cor de argila a lua
na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pedras pavorosas
pode marchar com quatro pés
e quatro lábios, a ternura.
Porque sem sair do presente
que é um anel delicado
tocamos a areia de ontem
e no mar ensina o amor
um arrebatamento repetido.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Amor Em Esplendor
Oriza Martins
Fantáticos momentos que juntos passamos
plenos de promessas que juntos juramos
ricos de ternura, prazer e emoção...
Suspiros intensos, olhares calientes
afogos, abraços e beijos, ardentes
momentos dourados como o sol de verão.
A brisa que sopra ao entardecer
que as otros um pouco de frio vem trazer,
em nós reacende o desejo, o fervor...
Não existe clim que apague esta chama
que a nós incendeia, acende, inflama,
pois o amor... é puro esplendor!
Fantáticos momentos que juntos passamos
plenos de promessas que juntos juramos
ricos de ternura, prazer e emoção...
Suspiros intensos, olhares calientes
afogos, abraços e beijos, ardentes
momentos dourados como o sol de verão.
A brisa que sopra ao entardecer
que as otros um pouco de frio vem trazer,
em nós reacende o desejo, o fervor...
Não existe clim que apague esta chama
que a nós incendeia, acende, inflama,
pois o amor... é puro esplendor!
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Quem, Além de Você?
Leoni
Foi só um sorriso e foi por amor
Nenhuma ironia, não foi por mal
Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal
Por trás das palavras, da raiva de tudo
Sorri pra tentar chegar em você
Foi como fugir pra nos proteger
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Porque
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão
Foi só um sorriso e foi por amor
Te juro do fundo do coração
Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
Deixa isso passar, e quando passar
Vou estar aqui te esperando
Pra te receber
E sorrir feliz dessa vez
Que esse amor é tanto
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
Foi só um sorriso e foi por amor
Nenhuma ironia, não foi por mal
Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal
Por trás das palavras, da raiva de tudo
Sorri pra tentar chegar em você
Foi como fugir pra nos proteger
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Porque
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão
Foi só um sorriso e foi por amor
Te juro do fundo do coração
Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
Deixa isso passar, e quando passar
Vou estar aqui te esperando
Pra te receber
E sorrir feliz dessa vez
Que esse amor é tanto
Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Se Eu Pudesse Te Encontrar
Claudete Lopes
Se eu pudesse te encontrar
No universo que foi projetado
Eu queria te dizer
Que você é tudo de um todo
É todo o meu bem-querer.
E no cais de um porto iluminado
Você é o sol, o céu e o cenário
No espetáculo do amanhecer
É a maravilha da estrela que brilha
Pra lua nova que vai nascer.
É no arco-íris, todas as cores
A mais bela obra da arquitetura
É a cobiça de muitos amores
Na paixão insana,
É o remédio que cura.
É o lírio, o delírio, os sonhos e o ato
Naquele jardim encantado
É o conto de fadas, a lenda e o fato
Nos versos do meu cordel pendurado.
É o ponto de encontro no meio do laço
E o presente abraço que um dia te dei
É o plano futuro, onde eu me embaraço
Por causa do beijo que nunca ganhei.
Nas notas sol, ré, dos acordes perdidos
É o eco dos sons que vem do passado
E na minha história e lirismo
É a melodia dos cânticos entoados.
É o preto no branco, os quais se misturam
Na química que, explode no ar
É o fogo abrasado que ainda perdura
Na imensa vontade de te encontrar.
Seria no mundo meu maior encontro
Daria a ele um infinito valor
Faria ser, porém, com encanto
Como encontro de primeiro amor.
Mas se não queres me encontrar
Nada mais posso fazer
Não quero mais sonhos e nem fantasias
Quero a real razão do viver
Se eu pudesse te encontrar
No universo que foi projetado
Eu queria te dizer
Que você é tudo de um todo
É todo o meu bem-querer.
E no cais de um porto iluminado
Você é o sol, o céu e o cenário
No espetáculo do amanhecer
É a maravilha da estrela que brilha
Pra lua nova que vai nascer.
É no arco-íris, todas as cores
A mais bela obra da arquitetura
É a cobiça de muitos amores
Na paixão insana,
É o remédio que cura.
É o lírio, o delírio, os sonhos e o ato
Naquele jardim encantado
É o conto de fadas, a lenda e o fato
Nos versos do meu cordel pendurado.
É o ponto de encontro no meio do laço
E o presente abraço que um dia te dei
É o plano futuro, onde eu me embaraço
Por causa do beijo que nunca ganhei.
Nas notas sol, ré, dos acordes perdidos
É o eco dos sons que vem do passado
E na minha história e lirismo
É a melodia dos cânticos entoados.
É o preto no branco, os quais se misturam
Na química que, explode no ar
É o fogo abrasado que ainda perdura
Na imensa vontade de te encontrar.
Seria no mundo meu maior encontro
Daria a ele um infinito valor
Faria ser, porém, com encanto
Como encontro de primeiro amor.
Mas se não queres me encontrar
Nada mais posso fazer
Não quero mais sonhos e nem fantasias
Quero a real razão do viver
terça-feira, 24 de abril de 2012
Seus Olhos
Almeida Garret
Seus olhos - se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou -
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
Seus olhos - se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou -
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Antes Que Marque Meia-Noite
Charles Chaplin
Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer
antes que o relógio marque meia noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo
ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro
ou me sentir encorajadopara administrar minhas finanças,
evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde
ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais
por não terem me dado tudo o que eu queria
ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar
ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com o trabalho doméstico
ou agradecer a Deus.
Posso lamentar decepções com amigos
ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei
posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim.
Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer
antes que o relógio marque meia noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo
ou agradecer às águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro
ou me sentir encorajadopara administrar minhas finanças,
evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde
ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais
por não terem me dado tudo o que eu queria
ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar
ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com o trabalho doméstico
ou agradecer a Deus.
Posso lamentar decepções com amigos
ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei
posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
A Cidade De Ouro ( Loppiano )
Mário Callegaro
Despontou na colina
a cidade de ouro
Cada um que ali vinha
era pobre
só tinha consigo
sua vida
Mas a lei da cidade de ouro
dizia que a vida devia perder
E quem dava sua vida sem nada pedir
ganhava mil vidas
e a cidade de ouro crescia...
A lua tornou-se mais clara
O sol com seus raios tornava mais bela
a cidade de ouro
No silêncio da noite ouvia-se o murmúrio
era o vento
passou sibilando entre as casas de tábuas
também ele queria saudar
a cidade de ouro
e a cidade de ouro crescia...
Quem ali se hospedava
saía tocado com a dança
com a música leve que via espontânea
nos rostos contentes
E assim, a cidade de ouro
crescia , crescia, crescia...
A colina que era pequena
tornou-se montanha.
Despontou na colina
a cidade de ouro
Cada um que ali vinha
era pobre
só tinha consigo
sua vida
Mas a lei da cidade de ouro
dizia que a vida devia perder
E quem dava sua vida sem nada pedir
ganhava mil vidas
e a cidade de ouro crescia...
A lua tornou-se mais clara
O sol com seus raios tornava mais bela
a cidade de ouro
No silêncio da noite ouvia-se o murmúrio
era o vento
passou sibilando entre as casas de tábuas
também ele queria saudar
a cidade de ouro
e a cidade de ouro crescia...
Quem ali se hospedava
saía tocado com a dança
com a música leve que via espontânea
nos rostos contentes
E assim, a cidade de ouro
crescia , crescia, crescia...
A colina que era pequena
tornou-se montanha.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Poesias Por Acaso
Clarice Pacheco
Sem inspiração
estou agora.
Tento atiçar a imaginação
mas ela demora.
Não consigo pensar em algo
que faça rimas.
É como querer acertar o alvo
com a flecha apontada para cima.
Não acho um bom assunto
que se organize bem em versos.
Mesmo sabendo que no mundo
há mil assuntos diversos.
Que coisa chata,
não consigo imaginar.
Isso quase me mata,
porque é horrível não poder pensar.
Mas espere um momento,
mesmo não tendo um tema,
se estas frases vou relendo,
vejo que é um poema!
Sem inspiração
estou agora.
Tento atiçar a imaginação
mas ela demora.
Não consigo pensar em algo
que faça rimas.
É como querer acertar o alvo
com a flecha apontada para cima.
Não acho um bom assunto
que se organize bem em versos.
Mesmo sabendo que no mundo
há mil assuntos diversos.
Que coisa chata,
não consigo imaginar.
Isso quase me mata,
porque é horrível não poder pensar.
Mas espere um momento,
mesmo não tendo um tema,
se estas frases vou relendo,
vejo que é um poema!
terça-feira, 10 de abril de 2012
Areal
Eduardo B. Penteado
I
Um dia, parti de olhos vendados
Para desbravar os desertos...
Pisoteei flores raras em teu oásis de diamante
Mas o mundo é infinitamente finito!
Sempre em frente, em minha marcha
Regressei ao ponto de partida
Foi então que vi os muros.
Encontrei uma porta sólida e impenetrável
Justa e inevitável
Cuja única chave jaz perdida
Sob as areias dos desertos de minha vida
Parto agora numa busca mais objetiva.
Buscarei a chave que abre a tua porta
Tudo que possuo agora é o tempo que me resta
Uma enorme ampulheta
Um oceano de areia
E um fio de luz que escapa por uma fresta.
II
Se fosse definir para ti este momento louco
Acho que começaria por descrever os ecos
Loucos e ocos de lógica
Que reverberam contra mim.
Às vezes sinto-me como uma caverna secreta
Um poço de sons
Uma mera estrutura de ossos, sangue e olhos
Com todo o resto a ser preenchido
Por uma expectativa de um algo mais
De um grito...
De uma louca corrida por areias úmidas
De escuridão.
De um passo em falso
Na direção de um lindo abismo
Que foge à compreensão das outras pessoas
Pois dirige sua queda para cima
Rumo a um parafuso incontrolável de descobertas
E déjà-vu
Girando, girando
Mãos, olhos, bocas, vidas, tempos...
De tempos em tempos
O ponteiro dos segundos se mexe
Um brilho de diamante me ofusca
E eu alucino.
De tempos em tempos
A porta deixa escapar um fio de luz
Instantâneo, porém intenso
Tímido, lindo e tenso
Apenas um pequenino e tímido fio de luz
Que ilumina a periferia dos desertos.
III
Tenho areia nos olhos e água pura nas mãos
Sinto uma lágrima seca no rosto
Coagulando
E em meio a uma tempestade de areia
Vejo alguém a girar,
Girando no falso redemoinho da ampulheta.
Vi meu sangue na areia
Dei as costas para a porta.
Tenho areia nos olhos e uma cascata nas mãos
Por onde escapas de mim
Grão, grão, grão após grão
Girando mãos
Girando olhos
Girando uma tranca que, simplesmente... não.
''Um olho na fechadura,'' repete o eco
Mas tem de ser diferente!
Tende a ser referente:
O arame farpado que me isola de ti
Também cerca o meu horizonte
Não vejo campos, não vejo montes
Abre então a porta do teu desejo.
IV
A lua surgiu
E cobriu meus desertos.
Aqui e ali emergem espectros
Que fitam o sangue em minhas veias
E voltam a desaparecer nas areias.
Fechei os olhos,
E dentro de minha própria escuridão,
Adormeci.
Sonhei que a areia me cobria, e gritei!
Quis esmurrar a porta, como que possuído
Mas ela se transformou em fino cristal
Frágil demais para ser destruído.
Desaprendi o limite entre o sonho e o real
E brindei à dor do não concluído.
À minha volta, a paisagem se modifica
Os espectros me chamam para outra dimensão
E do outro lado da porta de cristal
Alguém sussurra o meu nome... em vão.
Em vão!
V
Um dia, parti de olhos vendados...
Estou fora dos desertos
As areias se transformaram em pó e cinzas
Junto com os princípios básicos da paixão
Repenso estroboscopicamente aquilo que vivi
Areia, ampulheta, abismos, gritos, gritos!
Um adeus às armas
Um impossível adeus às lágrimas
Um improvável adeus aos lugares-comuns.
Ora, boa noite!
Que surpresa vê-la aqui...
Para onde ir e de onde vir?
Inocência, deixe-me rir
Inocência, leve-me para longe dos desertos
Vastos e úmidos desertos
Cobertos por uma fina película de sangue
Sangue na areia
Uma rosa branca na areia
Ela está morta, e jamais gostou de rosas
Estou livre...
O céu se partiu, e está chovendo vidro.
I
Um dia, parti de olhos vendados
Para desbravar os desertos...
Pisoteei flores raras em teu oásis de diamante
Mas o mundo é infinitamente finito!
Sempre em frente, em minha marcha
Regressei ao ponto de partida
Foi então que vi os muros.
Encontrei uma porta sólida e impenetrável
Justa e inevitável
Cuja única chave jaz perdida
Sob as areias dos desertos de minha vida
Parto agora numa busca mais objetiva.
Buscarei a chave que abre a tua porta
Tudo que possuo agora é o tempo que me resta
Uma enorme ampulheta
Um oceano de areia
E um fio de luz que escapa por uma fresta.
II
Se fosse definir para ti este momento louco
Acho que começaria por descrever os ecos
Loucos e ocos de lógica
Que reverberam contra mim.
Às vezes sinto-me como uma caverna secreta
Um poço de sons
Uma mera estrutura de ossos, sangue e olhos
Com todo o resto a ser preenchido
Por uma expectativa de um algo mais
De um grito...
De uma louca corrida por areias úmidas
De escuridão.
De um passo em falso
Na direção de um lindo abismo
Que foge à compreensão das outras pessoas
Pois dirige sua queda para cima
Rumo a um parafuso incontrolável de descobertas
E déjà-vu
Girando, girando
Mãos, olhos, bocas, vidas, tempos...
De tempos em tempos
O ponteiro dos segundos se mexe
Um brilho de diamante me ofusca
E eu alucino.
De tempos em tempos
A porta deixa escapar um fio de luz
Instantâneo, porém intenso
Tímido, lindo e tenso
Apenas um pequenino e tímido fio de luz
Que ilumina a periferia dos desertos.
III
Tenho areia nos olhos e água pura nas mãos
Sinto uma lágrima seca no rosto
Coagulando
E em meio a uma tempestade de areia
Vejo alguém a girar,
Girando no falso redemoinho da ampulheta.
Vi meu sangue na areia
Dei as costas para a porta.
Tenho areia nos olhos e uma cascata nas mãos
Por onde escapas de mim
Grão, grão, grão após grão
Girando mãos
Girando olhos
Girando uma tranca que, simplesmente... não.
''Um olho na fechadura,'' repete o eco
Mas tem de ser diferente!
Tende a ser referente:
O arame farpado que me isola de ti
Também cerca o meu horizonte
Não vejo campos, não vejo montes
Abre então a porta do teu desejo.
IV
A lua surgiu
E cobriu meus desertos.
Aqui e ali emergem espectros
Que fitam o sangue em minhas veias
E voltam a desaparecer nas areias.
Fechei os olhos,
E dentro de minha própria escuridão,
Adormeci.
Sonhei que a areia me cobria, e gritei!
Quis esmurrar a porta, como que possuído
Mas ela se transformou em fino cristal
Frágil demais para ser destruído.
Desaprendi o limite entre o sonho e o real
E brindei à dor do não concluído.
À minha volta, a paisagem se modifica
Os espectros me chamam para outra dimensão
E do outro lado da porta de cristal
Alguém sussurra o meu nome... em vão.
Em vão!
V
Um dia, parti de olhos vendados...
Estou fora dos desertos
As areias se transformaram em pó e cinzas
Junto com os princípios básicos da paixão
Repenso estroboscopicamente aquilo que vivi
Areia, ampulheta, abismos, gritos, gritos!
Um adeus às armas
Um impossível adeus às lágrimas
Um improvável adeus aos lugares-comuns.
Ora, boa noite!
Que surpresa vê-la aqui...
Para onde ir e de onde vir?
Inocência, deixe-me rir
Inocência, leve-me para longe dos desertos
Vastos e úmidos desertos
Cobertos por uma fina película de sangue
Sangue na areia
Uma rosa branca na areia
Ela está morta, e jamais gostou de rosas
Estou livre...
O céu se partiu, e está chovendo vidro.
Senhor Dos Versos
Mário Feijó
Era tão belo aquele menino
Alma de criança travessa
Que pulava sobre pedras
Transformando-as em versos...
Em meus sonhos por vezes
Ele se torna um deus grego
E com sua cítara sai por aí a fazer versos
Ao mesmo tempo em que flecha corações...
Não queria acreditar em seu poder, o menino,
Tampouco sabia ele que produzia pérolas
Encantando a todos – alguns dos simples mortais
Transforma ele em estátuas de mármore...
Quisera eu poder transformar o encanto
Correr pelas ruas em pranto e perdoá-lo
Foi-se embora o menino... fez-se homem
E levou todos os meus versos...
Era tão belo aquele menino
Alma de criança travessa
Que pulava sobre pedras
Transformando-as em versos...
Em meus sonhos por vezes
Ele se torna um deus grego
E com sua cítara sai por aí a fazer versos
Ao mesmo tempo em que flecha corações...
Não queria acreditar em seu poder, o menino,
Tampouco sabia ele que produzia pérolas
Encantando a todos – alguns dos simples mortais
Transforma ele em estátuas de mármore...
Quisera eu poder transformar o encanto
Correr pelas ruas em pranto e perdoá-lo
Foi-se embora o menino... fez-se homem
E levou todos os meus versos...
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Felicidade É Coisa Que Não Tem
Judas Isgorogota
Era órfã e infeliz. Tinha o pesar profundo
De ser só, de não ter, como as outras meninas,
O carinho, a atenção, o desvelo dos pais.
Sofria por saber que, sozinha no mundo,
Ela, que havia tido a mais negra das sinas,
Deste mundo de dor nada esperava mais...
Mas, ouvindo, por fim, a fervorosa prece
Que altas horas da noite entre prantos brotava
Daquele ingênuo coração,
O Senhor a atendeu. E eis que um dia aparece
Um casal que de há muito desejava
Uma menina assim, para sua afeição.
E ela foi a sorrir, ela que não sorria...
A mansão do casal era toda cercada
De um mimoso jardim.
Seus vestidos agora eram lindos. Dir-se-ia
Que a andrajosa infeliz se transmudara em fada
E que a sua desdita, enfim, tivera um fim...
Não tivera, porém. Há três anos
Que ela era na escola a estudante pior.
Entanto, ela fazia esforços sobre-humanos
Para ao menos dizer uma frase de cor...
A memória, porém, só lhe causava danos
E era aquilo, afinal, sua mágoa maior...
Uma noite, o casal lhe disse: "Temos pena
De lembrar que você já não é tão pequena,
Que precisa estudar...
Pois, se perder este ano, é coisa resolvida,
Você vai passar a sua vida
Na copa, a trabalhar."
Aquela repreensão como um punhal lhe doía.
Tendo a alma a afogar-se em pranto, noite e dia
Aos livros a sem-sorte inda mais se aplicou.
Não, não queria ser uma simples copeira,
Ela que, pobrezinha, a sua infância inteira
Entre angústias passou...
Dezembro. A criançada. Antegozando as férias,
Mui longe de pensar nessas coisas tão sérias
Que a vida nos impõe quando a idade já vem,
Corre aos exames, rindo a criançada...
E no meio daquela revoada
Com um riso triste e bom, a órfão sorri também...
A escola é nesse dia um ninho delicioso,
Forrado de jasmins, de palmas e florões.
E a voz do mestre é a voz de um Todo-poderoso
Que as almas infantis enche de comoções...
Chega a vez da orfãzinha. É agora a vez terceira
Que se senta naquela humílima cadeira
Tal como se sentasse em um banco de réu...
Fala o mestre o seu nome, ao que ela diz: "Presente!"
Mas, o corpo era só que estava ali...realmente,
A sua alma vagava, entre os anjos, no céu...
O mestre a conhecia: era uma retardada
Mental, um caso à parte, e mister se fazia
Que com amor procedesse à mais leve argüição.
Dentre todas talvez fosse a mais aplicada...
Mas a idéia faltava...o cérebro dormia...
E a memória vivia em profunda inação.
-"Minha filha, você sabe perfeitamente
O que é "substantivo": a palavra que indica
Um animal, um ente,
Uma coisa ou pessoa, ou mesmo uma ilusão...
Por exemplo, você, o seu nome, "Lilica";
"Palácio", "Deus", "Amor", "Jornal", "Antônio"...
"Demônio" é um ser também, muito embora "Demônio"
Somente exista na imaginação..."
-"Muito bem, - prosseguiu o mestre. Estou contente.
Agora, diga o que é "substantivo abstrato"...
Diga...Lembre-se bem...coisa mais fácil não há...
Substantivo abstrato...uma coisa em que a gente
Ouve sempre falar mas não viu, de fato,
Nunca viu nem verá..."
-"Vamos... Só um exemplo, e eu fico satisfeito...
Substantivo abstrato...um entre sobre-humano,
Um ser a cujo canto alma alguma resiste,
Mas que não passa de ilusão...
Um sentimento bom que vive em nosso peito...
Uma coisa que o mundo inteiro diz que existe
E entretanto jamais a tivemos à mão..."
Nesse instante, uma luz brilhou nos olhos pequeninos
Da orfãzinha infeliz; e eis que, rasgando o denso
Nevoeiro, a idéia acorda em lampejos divinos,
A memória reluz como uma estranha vela;
Inicia a razão sua marcha triunfal,
E o cérebro, por fim, despertando daquela
Sonolência fatal,
Começa a funcionar com um dínamo imenso!
-"Mestre...mestre...eu já sei!" – grita a coitada como
Temendo que a razão se apagasse outra vez.
E aos brados, a chorar, num doloroso assomo,
Grita como uma douda
Que quisesse dizer a sua angústia toda
Naquele instante só de estranha lucidez!
- "Mestre, eu sei o que é! Se há uma coisa, em verdade,
Que o mundo inteiro diz que existe e que ninguém
Conseguiu ver jamais, nem a sentiu também,
Essa coisa só pode ser "Felicidade"!
Felicidade é coisa que não tem"!
(As Amáveis Lembranças)
Era órfã e infeliz. Tinha o pesar profundo
De ser só, de não ter, como as outras meninas,
O carinho, a atenção, o desvelo dos pais.
Sofria por saber que, sozinha no mundo,
Ela, que havia tido a mais negra das sinas,
Deste mundo de dor nada esperava mais...
Mas, ouvindo, por fim, a fervorosa prece
Que altas horas da noite entre prantos brotava
Daquele ingênuo coração,
O Senhor a atendeu. E eis que um dia aparece
Um casal que de há muito desejava
Uma menina assim, para sua afeição.
E ela foi a sorrir, ela que não sorria...
A mansão do casal era toda cercada
De um mimoso jardim.
Seus vestidos agora eram lindos. Dir-se-ia
Que a andrajosa infeliz se transmudara em fada
E que a sua desdita, enfim, tivera um fim...
Não tivera, porém. Há três anos
Que ela era na escola a estudante pior.
Entanto, ela fazia esforços sobre-humanos
Para ao menos dizer uma frase de cor...
A memória, porém, só lhe causava danos
E era aquilo, afinal, sua mágoa maior...
Uma noite, o casal lhe disse: "Temos pena
De lembrar que você já não é tão pequena,
Que precisa estudar...
Pois, se perder este ano, é coisa resolvida,
Você vai passar a sua vida
Na copa, a trabalhar."
Aquela repreensão como um punhal lhe doía.
Tendo a alma a afogar-se em pranto, noite e dia
Aos livros a sem-sorte inda mais se aplicou.
Não, não queria ser uma simples copeira,
Ela que, pobrezinha, a sua infância inteira
Entre angústias passou...
Dezembro. A criançada. Antegozando as férias,
Mui longe de pensar nessas coisas tão sérias
Que a vida nos impõe quando a idade já vem,
Corre aos exames, rindo a criançada...
E no meio daquela revoada
Com um riso triste e bom, a órfão sorri também...
A escola é nesse dia um ninho delicioso,
Forrado de jasmins, de palmas e florões.
E a voz do mestre é a voz de um Todo-poderoso
Que as almas infantis enche de comoções...
Chega a vez da orfãzinha. É agora a vez terceira
Que se senta naquela humílima cadeira
Tal como se sentasse em um banco de réu...
Fala o mestre o seu nome, ao que ela diz: "Presente!"
Mas, o corpo era só que estava ali...realmente,
A sua alma vagava, entre os anjos, no céu...
O mestre a conhecia: era uma retardada
Mental, um caso à parte, e mister se fazia
Que com amor procedesse à mais leve argüição.
Dentre todas talvez fosse a mais aplicada...
Mas a idéia faltava...o cérebro dormia...
E a memória vivia em profunda inação.
-"Minha filha, você sabe perfeitamente
O que é "substantivo": a palavra que indica
Um animal, um ente,
Uma coisa ou pessoa, ou mesmo uma ilusão...
Por exemplo, você, o seu nome, "Lilica";
"Palácio", "Deus", "Amor", "Jornal", "Antônio"...
"Demônio" é um ser também, muito embora "Demônio"
Somente exista na imaginação..."
-"Muito bem, - prosseguiu o mestre. Estou contente.
Agora, diga o que é "substantivo abstrato"...
Diga...Lembre-se bem...coisa mais fácil não há...
Substantivo abstrato...uma coisa em que a gente
Ouve sempre falar mas não viu, de fato,
Nunca viu nem verá..."
-"Vamos... Só um exemplo, e eu fico satisfeito...
Substantivo abstrato...um entre sobre-humano,
Um ser a cujo canto alma alguma resiste,
Mas que não passa de ilusão...
Um sentimento bom que vive em nosso peito...
Uma coisa que o mundo inteiro diz que existe
E entretanto jamais a tivemos à mão..."
Nesse instante, uma luz brilhou nos olhos pequeninos
Da orfãzinha infeliz; e eis que, rasgando o denso
Nevoeiro, a idéia acorda em lampejos divinos,
A memória reluz como uma estranha vela;
Inicia a razão sua marcha triunfal,
E o cérebro, por fim, despertando daquela
Sonolência fatal,
Começa a funcionar com um dínamo imenso!
-"Mestre...mestre...eu já sei!" – grita a coitada como
Temendo que a razão se apagasse outra vez.
E aos brados, a chorar, num doloroso assomo,
Grita como uma douda
Que quisesse dizer a sua angústia toda
Naquele instante só de estranha lucidez!
- "Mestre, eu sei o que é! Se há uma coisa, em verdade,
Que o mundo inteiro diz que existe e que ninguém
Conseguiu ver jamais, nem a sentiu também,
Essa coisa só pode ser "Felicidade"!
Felicidade é coisa que não tem"!
(As Amáveis Lembranças)
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Aforismos dos Quinhentos Anos
Paulinho Assunção
O Brasil é um barco mitológico com quinhentos anos,
tripulado por gente com asas.
Gente com asas grandes, médias, pequenas – e gente com asas cortadas.
Querem uma teoria sobre o Brasil?
Pois aprendam a arte de observar os pés da multidão:
cada sapato é uma premissa,
cada pé descalço é uma questão.
E então?
Que abismo nos espera depois que a grande farra do capital terminar
numa gigantesca ressaca?
É função do poeta brasileiro de quinhentos anos despoetizar a poesia até o osso.
Toda a poesia poetizada está hoje na boca mole retórica da política,
incluindo aí a política dos poetas molemente poetizados.
Equivocaram-se os adeptos do “pós” isto, do “pós” aquilo.
Aos quinhentos anos,
estamos e somos pré, pré-qualquer-coisa.
Uma teoria sobre o Brasil?
Pois: traçar uma linha evolutiva entre as miçangas
e os espelhinhos dos conquistadores
e os celulares dependurados pelo corpo dos brasileiros.
Esta paisagem nas esquinas, sob os viadutos,
paisagem de meninos e meninas, de homens e mulheres,
amontoados, dormindo: o tal paraíso da carta de Caminha
trazia um texto oculto, profético e trágico,
para ser lido só agora, quinhentos anos depois.
Ao meu filho de dois anos, eu digo, sempre direi:
jamais dê importância a quem pensa
e escreve com mandíbulas de ferro.
Ao meu filho de dois anos, eu digo, sempre direi:
desconfie da ira do manso e da mansidão do irado.
Quinhentos anos: ex-brasileiro, ex-estrangeiro,
que homem me vejo dentro do espelho?
Querem outra teoria sobre o Brasil?
Pois aprendam a arte de ver estes e aqueles,
por aí, em algum lugar, os que perderam o trem,
mas continuam sentados à espera do embarque na estação em ruínas.
Ou então, aprendam a arte de ver estes e aqueles,
por aí, em algum lugar,
os que se calaram depois do último combate,
os que depuseram as armas e jogaram no lixo
medalhas e condecorações.
Ou então,
uma teoria sobre o Brasil quinhentão poderia se assentar nesta imagem:
o trajeto-arco de uma nova idéia,
desde a sua eclosão até ser abatida
a tiros em praça pública.
Quinhentos anos e não aprendemos isto:
é o modo de fazer o guisado, não o guisado;
é o ponto do doce, não a bandeja com o doce;
é o modo de temperar, não o tempero;
é o modo do beijo, não a boca nem o beijo;
é o modo de viver, é o modo de morrer.
Há quinhentos anos, um barco tripulado pelas gentes tupiniquins
aportaria em uma costa qualquer da Europa
para mostrar ao europeu uma questão filosófica de base.
Esta: o trovão é o trovão é o trovão.
Quinhentos anos de História,
nenhum problema resolvido,
sequer colocado.
Quinhentos anos:
os sabichões tardios, com as suas estéticas agônicas,
ainda reinventarão a bicicleta, o bilboquê, a bolinha de gude.
Quinhentos anos:
os capitães-do-mato agora agem nas periferias metropolitanas.
Trocaram o bacamarte pelo fuzil.
Quinhentos anos:
uns milhões de escravos egípcios,
sob o chicote do faraó,
tentam empurrar a pirâmide-Brasil para o Primeiro Mundo.
Verdade das vaidades:
o tal paraíso da carta de Caminha
existe de fato nos sorrisos das colunas sociais.
Mas esse céu, esse sol, essas praias,
essas mulheres, esse carnaval, esse futebol,
esses automóveis, essa languidez – meu Deus,
quem é que se ocupará da utopia?
Pergunta dos quinhentos anos: ainda seremos anglo-saxônicos?
Fim de milênio e de cantar:
a poesia, meninos,
se ainda há a poesia, é o idioma posto a pensar.
Balanço pessoal dos quinhentos anos
sou especialista em nuvens,
especialista em entardeceres e amanheceres.
Especializei-me naquilo que é refugo,
naquilo que é insignificante para a ordem do mundo,
para a dita riqueza do mundo.
Conclusão dos quinhentos anos:
o Apocalipse, meninos, o Apocalipse aconteceu várias vezes
e ainda existe muita pólvora estocada.
E foram dizer que eras grande, impávido, colosso:
agora só nos resta suportar o teu narcisismo incomensurável.
Com tamanha quantidade de automóveis-falantes,
de automóveis-pensantes, de automóveis-emergentes,
quem é que vai se ocupar do pé andarilho?
Dúvida dos quinhentos anos:
e se começássemos tudo de novo,
com um baile ou quem sabe uma quermesse?
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