Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Teu Riso

Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Menina Selvagem

Henriqueta Lisboa

A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.
Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.

Reis Magos, é tempo!
Ofereci bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Musa Doente

Bauderlaire

O que tens essa manhã, ó musa de ar magoado?
Teus olhos estão cheios de visões noturnas,
E vejo que em teu rosto afloram lado a lado
A loucura e a aflição, frias e taciturnas.

Teria o duende róseo ou o súcubo esverdeado
Te ungido com o medo e o mel de suas urnas?
O sonho mau, de um punho déspota e obcecado,
Nas águas te afogou de um mítico Minturnas ?

Quisera eu que, vertendo o odor da exuberância,
O pensamento fosse em ti uma constância
E que o sangue cristão te fluísse na cadência

Das velhas sílabas de uníssona freqüência,
Quando reinavam Febo, o criador das cantigas,
E o grande Pã, senhor do campo e das espigas.

sábado, 25 de setembro de 2010

Ode À Poesia

Pablo Neruda

Perto de cinqüenta anos
caminhando
contigo, Poesia.
A princípio
me emaranhavas os pés
e eu caía de bruços
sobre a terra escura
ou enterrava os olhos
na poça
para ver as estrelas.
Mais tarde te apertaste
a mim com os dois braços da amante
e subiste
pelo meu sangue
como uma trepadeira.
E logo
te transformaste em taça.
Maravilhoso
foi
ir derramando-te sem que te consumisses,
ir entregando tua água inesgotável,
ir vendo que uma gota
caia sobre um coração queimado
que de suas cinzas revivia.
Mas
ainda não me bastou.
Andei tanto contigo
que te perdi o respeito.
Deixei de ver-te como
náiade vaporosa,
te pus a trabalhar de lavadeira,
a vender pão nas padarias,
a tecer com as simples tecedoras,
a malhar ferros na metalurgia.
E seguiste comigo
andando pelo mundo,
contudo já não eras
a florida
estátua de minha infância.
Falavas
agora
com voz de ferro.
Tuas mãos
foram duras como pedras.
Teu coração
foi um abundante
manancial de sinos,
produziste pão a mãos cheias,
me ajudaste
a não cair de bruços,
me deste companhia,
não uma mulher,
não um homem,
mas milhares, milhões.
Juntos, Poesia,
fomos
ao combate, à greve,
ao desfile, aos portos,
à mina
e me ri quando saíste
com a fronte tisnada de carvão
ou coroada de serragem cheirosa
das serrarias.
Já não dormíamos nos caminhos.
Esperavam-nos grupos
de operários com camisas
recém-lavadas e bandeiras rubras.

E tu, Poesia,
antes tão desventuradamente tímida,
foste
na frente
e todos
se acostumaram ao teu traje
de estrela cotidiana,
porque mesmo se algum relâmpago delatou tua família,
cumpriste tua tarefa,
teu passo entre os passos dos homens.
Eu te pedi que fosses
utilitária e útil,
como metal ou farinha,
disposta a ser arada,
ferramenta,
pão e vinho,
disposta, Poesia,
a lutar corpo-a-corpo
e cair ensangüentada.

E agora,
Poesia,
obrigado, esposa,
irmã ou mãe
ou noiva,
obrigado, onda marinha,
jasmim e bandeira,
motor de música,
longa pétala de ouro,
campana submarina,
celeiro
inextinguível,
obrigado
terra de cada um
de meus dias,
vapor celeste e sangue
de meus anos,
porque me acompanhaste
desde a mais diáfana altura
até a simples mesa
dos pobres,
porque puseste em minha alma
sabor ferruginoso
e fogo frio,
porque me levantaste
até a altura insigne
dos homens comuns,
Poesia,
porque contigo,
enquanto me fui gastando,
tu continuaste
desabrochando tua frescura firme,
teu ímpeto cristalino,
como se o tempo
que pouco a pouco me converte em terra
fosse deixar correndo eternamente
as águas de meu canto.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um Fio De Esperança

Nora Ney

Rico e poderoso,
Eu do amor zombei...
Eaos céus neguei,
Mas você,como a luz, chegou,
E tudo se iluminou,
Sozinho eu vivia,
Sem amar alguém,
E sem crer também...

Hoje sou feliz,
Porque você meu amor, me quis.

Débil fio de esperança,
Quem te alcança,
Vive em paz!

Hoje é diferente,
Tenho alguém, enfim,
Não há ouro no mundo
Que me dê,
O que achei em você, você...

Meu Mestre Coração

Milton Nascimento / Fernando Brandt

Coração
meu tambor do peito, meu amigo cordial
fez de mim um amador
que por um carinhosobe até o Redentor
o rio que corre em mim
vem dessa nascente seu leito natural
o amor que existe em mim
vem desse caminho de vida que ele me traçou

Por me saber de cor
me leva no tempo para o mundo conhecer
território da paixão
coração me ensina a coragem de viver
me joga no mar de amar
nessa água boa eu irei navegar
e eu sou um aprendiz
que segue seu mestre aonde ele for

E o meu mestre é o meu coração
meu tambor do peito meu amigo cordial
fez de mim um amador
que por um carinho sobe até o redentor
o rio que corre em mim
vem desse caminho que ele me traçou

meu mestre é o coração
meu tambor do peito, meu amigo cordial
vida e paixão

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sossegue Coração

Paulo Leminski

Sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora.

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa.

Poesia É...

Cassandra Rios

Poesia é dizer o nome dela baixinho
É lembrar aqueles olhos,
que parecem dois lagos de sombras,
profundos, que se deitam
sobre a pele aveludada de seu rosto,
e sob a franja emortece dos seus cílios.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Noturno Vulgar

Arthur Rimbaud

Um sopro abre fendas operádicas nas paredes,
embaralha o eixo dos tetos podres,
dispersa os limites das lareiras,
eclipsa vidraças.
Pelas videiras, apoiando o pé numa gárgula,
desci nesse côche de uma época bem indicada pelos espelhos convexos,
almofadas bojudas e sofás distorcidos.
Carro funerário do meu sono, solitário,
casa de pastor de minha tolice,
o veículo vira sobre o mato da grande estrada desaparecida :
e num defeito no alto do espelho,
à direita, giram pálidas figuras lunares, folhas, seios;
Um verde e um azul escuros invadem a imagem.
Desatrelagem perto de uma mancha de cascalho.
Aqui vão assobiar às tempestades, e às Sodomas,
e às Solimas,
e aos animais ferozes e aos exércitos,
(Postilhões e animais de sonho vão voltar sob as matas mais sufocantes
para me afogar até os olhos na nascente de seda)
E a nos enviar, açoitados por ondas crispadas e bebidas derramadas
rolando entre latidos de dogues...
Um sopro dispersa os limites da lareira.

A Resposta Da Terra

William Blake

A terra levantou sua cabeça
Desde a escuridão pavorosa e triste.
Sua luz voou,
Pétreo terror!
E cobriu seus cabelos com cinzento desespero.
"Presa junto a úmida costa,
Ciúmes estrelados guardam meu covil :
Fria e velha,
Chorando,
Escuto ao Pai dos homens antigos.
Egoísta Pai de homens!
Cruel, ciumento, medo egoísta!
Pode o gozo,
Acorrentado na noite,
Dar à luz as virgens da juventude e manhã ?
A primavera esconde sua alegria
Quando os casulos e as flores crescem ?
O semeador
Semeia pela noite,
Ou o lavrador lavra na escuridão ?
Rompe esta pesada corrente
Que rodeia de gelo meus ossos
Egoísta! Inútil!
Eterna praga!
Que ao livre Amor ataste com ataduras".

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Minha Terra

Casimiro de Abreu

Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;

– Hei de dar-lhe a realeza
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se em quanto tinha.

Correi pr’as bandas do sul:
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
– É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de Abril.

Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
– É uma terra encantada
– Mimosa jardim de fada –
Do mundo todo invejada,
Que o mundo não tem igual.

Não, não tem, que Deus fadou-a
Dentre todas – a primeira:
Deu-lhe esses campos bordados,
Deu-lhe os leques da palmeira,
E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Na folhagem da mangueira.

É um país majestoso
Essa terra de Tupã,
Desd’o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!
– Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.

Ao lado da cachoeira,
Que se despenha fremente,
Dos galhos da sapucaia.
Nas horas do sol ardente,
Sobre um solo d’açucenas,
Suspensas a rede de penas
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente.

Foi ali que noutro tempo
À sombra do cajazeiro
Soltava seus doces carmes
O Petrarca brasileiro;
E a bela que o escutava
Um sorriso deslizava
Para o bardo que pulsava
Seu alaúde fagueiro.

Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios:
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.
Foi ali, no Ipiranga,
Que com toda a majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;

Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!

Um povo ergueu-se cantando
– Mancebos e anciãos –
E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos;
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Brandando cheio de fogo:
– Portugal! Somos irmãos!

Quando nasci, esse brado
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam – guerra!
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra!

Se brasileiro nasci
Brasileiro hei de morrer,
Que um filho daquelas matas
Ama o céu que o viu nascer;
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.

Chora, sim, como suspiro
Por esses campos que eu amo,
Pelas mangueiras copadas
E o canto do gaturamo;
Pelo rio caudaloso,
Pelo prado tão relvoso,
E pelo tiê formoso
Da goiabeira no ramo!

Quis cantar a minha terra,
Mas não pode mais a lira;
Que outro filho das montanhas
O mesmo canto desfira,
Que o proscrito, o desterrado,
De ternos prantos banhado,
De saudades torturado,
Em vez de cantar – suspira!

Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!

Fala Baixinho

Pixinguinha / Hermínio Bello de Carvalho

Fala baixinho só pra eu ouvir
Porque ninguém vai mesmo compreender
Que o nosso amor é bem maior
Que tudo aquilo que eles sentem
Eu acho até que eles nem sentem, não
Espalham coisas só pra disfarçar
Daí então porque se dar
Ouvidos a quem nem sabe gostar.

Olha só, meu bem, quando estamos sós
O mundo até parece que foi feito pra nós dois
Tanto amor assim que é melhor guardar
Pois que os invejosos vão querer roubar
A sinceridade é que vale mais
Pode a humanidade se roer de desamor
Vamos só nós dois
Sem olhar pra trás
Sem termos que ligar pra mais ninguém.

Canção de Inverno

Antonio Marcos / Mário Marcos

Vi o inverno frio sem seus braços,
A rua está deserta, sem você.
Meu corpo pressente uma fraqueza,
Que nasce na tristeza de estar só.
Não suporto mais a longa espera,
Quem me dera ter você aqui,
Pra dormir um pouco
E ser mais gente,
De repente eu comecei morrer!

Você não sabe como,
Eu gosto tanto de você,
Preciso seu carinho pra viver!
Você não sabe como,
Eu sofro tanto sem lhe ver,
O inverno está mais frio sem você!

Tenho perguntado a quem encontro:
- Se alguém compreende o que me aconteceu,
Mas ninguém entende o desencontro,
Que fez o nosso amor envelhecer.

Meu bem, o inverne triste vai chegando,
E eu só gostaria de saber:
- Se você encontrou um outro ninho,
Eu ando tão sozinho e não achei!

Você não sabe como,
Eu gosto tanto de você,
Preciso seu carinho pra viver!
Você não sabe como,
Eu sofro tanto sem lhe ver,
O inverno está mais frio sem você!

Você não sabe como,
Eu gosto tanto de você,
Preciso seu carinho pra viver!
Você não sabe como,
Eu sofro tanto sem lhe ver,
O inverno está mais frio sem você!
Você não sabe como...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Minha Grande Ternura

Manuel Bandeira

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo

domingo, 19 de setembro de 2010

Flores

Rimbaud

De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.

Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.

Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore
a multidão das rosas fortes e jovens.

Alma Mater

Cruz e Souza

Alma da Dor, do Amor e da Bondade,
Alma purificada no Infinito,
Perdão santo de tudo o que é maldito,
Harpa consoladora da Saudade!

Das estrelas serena virgindade,
Alma sem um soluço e sem um grito,
Da alta Resignação, da alta Piedade!
Tu, que as profundas lágrimas estancas

E sabes levantar Imagens brancas
No silencio e na sombra mais velada...

Derrama os lírios, os teus lírios castos,
Em Jordões imortais, vastos e vastos,
No fundo da minh'alma lacerada!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Alma Perdida

Florisbela Espanca

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda noite choraste...e eu chorei!
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Partido Alto

Chico Buarque de Holanda

Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
não vou duvidar, ó nega
E se Deus não dá
Como é que vai ficar, ó nega
Deus dará, Deus dará
Diz que deu diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus negar
Eu vou me indignar e chega
Deus dará Deus dará
Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus negar
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus negar
eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará.

Deus é um cara gozador
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da Miséria
nasci brasileiro
Eu sou do Rio de Janeiro.

Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
E se Deus não dá, ó nega
Como é que vai ficar, ó nega
Deus dará, Deus dará
Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus negar
Eu vou me indignar, e chega
Deus dará, Deus dará.

Jesus Cristo ainda me paga, um dia ainda explica
Como é que pôs no mundo essa pouca titica
Vou correr o mundo afora, dar uma canjica
Que é pra ver se alguem se amarra ao ronco da cuica
E aquele abraço pra quem fica.

Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
E se Deus não dá, ó nega
Como é que vai ficar, ó nega
Deus dará, Deus dará
Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus negar
Eu vou me indignar. e chega
Deus dará, Deus dará.

Deus me deu mão de veludo,pra fazer carícia
Deus me deu muita saudade e muita preguiça
Deus me deu perna comprida e muita malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou noticia.

Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus não dá
Como é que vai ficar, ó nega
Deus dará, Deus dará
Diz que Deus
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ó nega
E se Deus negar
Eu vou me indignar, e chegar
Deus dará, Deus dará.

Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio
Dou pernada três por quatro, e nem me despenteio
que eu já tô de saco cheio.

Desencanto

Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dái-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu fa o versos como quem morre.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Clara

Casimiro de Abreu

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se é morena
tu fosses em vez de clara!
Talvez... quem sabe... não digo...
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais gra a a boca breve.
O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
Óh A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licen a um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
Ah! O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
És clara da cor da neve!

Aula De Amor

Bertold Brecht

Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.

Falando De Amor

Tom Jobim / Vinícius de Moraes

Se eu pudesse por um dia
Esse amor essa alegria
Eu te juro te daria
Se pudesse esse amor todo dia.

Chega perto Vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro-canção.

Se soubesses Como eu gosto
Do teu cheiro teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor.

Chora flauta Chora pinho
Chora eu o teu cantor
Chora manso bem baixinho
Nesse choro falando de amor.

Quando passas Tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol.

Vem depressa, vem sem medo
Foi prá ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro-canção
Lá no fundo do meu coração.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Outra Estação

Vânia Bastos

Vem
Abre caminho pro luar
Pro coração imaginar
Uma canção no rumo das marés
Não, que a noite possa clarear
Mas tendo a luz
Que trago em meu olhar, sim
O amor em mim
Pode se apresentar
Deus
Quem sabe o tempo seja Deus
Mudando as pedras de lugar
Pra resgatar
O que a paixão quiser
Não, que o tempo possa recuar
Mas a memória vai buscar
O coração onde estiver
Ah!
Num samba há tanto pra dizer
Tantas palavras pra juntar
Mas quando eu canto
Vou perdendo a razão
A minha mente vai pra
Outra estação
A minha voz brilha no sol

Dividido

William Blake

Dividido por incessante angústia,
Pois a Piedade a alma dilacera,
Padeceu dores, por séculos infindos.
Por rochedos escorriam cascatas de vida.
Em Nervos a linfa contraiu o vácuo
E os nervos erravam no seio da noite,
E deixaram um globo, esférico de sangue
Suspenso, a estremecer no vácuo.

Assim foi o Eterno Profeta dividido
Perante a mortal imagem de Urizen;
E em trevas e mutáveis nuvens,
Por baixo, em noite de invernia,
Estendia-se imenso o abismo de Los;

E nos intervalos da treva, surgiram
Aos olhos dos Eternos as visões distantes,
Remotas, do sombrio afastamento.
Lentes que desvendam novos Mundos
No Abismo infinito e sideral,
Os olhos flexíveis dos Imortais
Miravam as visões sombrias de Los
E o globo de vivo sangue a estremecer.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aos Mesmos

Bocage

De insípida sessão no inútil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gótica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.

Taful que o português não lhe entendia,
Nem ao resto da cômica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.

Dos sócios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.

Fez na calúnia vil cruéis ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mãos de marujos e lacaios.

domingo, 12 de setembro de 2010

Aculturando

Itamar Assumpção

Culturalmente confuso
Brasileiro é aculturado
Líbio, libanês, árabe turco
Acha farinha do mesmo saco
Não saca croata, curdo
Não saca iugoslavo
Nem belga, nem mameluco
Não saca Platão, nem Plutarco
Não saca que um cafuzo
Mestiço não é mulato
Que apito toca o Caruso
Que apito toca Bach
Não saca sueco, luso
Egípcio, tchecoslovaco
Kafka, Freud, Confúcio
Não saca que russo é cossaco

Verde Que Te Quero Rosa

Cartola / Dalmo Castelo

Verde como céu azul a esperança
Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida
É branco o sorriso das crianças
São verdes, os campos, as matas
E o corpo das mulatas quando vestem Verde e rosa, é
Mangueira
É verde o mar que me banha a vida inteira
Verde como céu azul a esperança
Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida
É branco o sorriso das crianças
São verdes, os campos, as matas
E o corpo das mulatas quando vestem Verde e rosa, é a
Mangueira
É verde o mar que me banha a vida inteira
Verde como céu azul a esperança
Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida
Verde que te quero Rosa (é a Mangueira)
Rosa que te quero Verde (é a Mangueira)
Verde que te quero Rosa (é a Mangueira)
Rosa que te quero Verde (é a Mangueira)

sábado, 11 de setembro de 2010

Tempo Sem Tempo

José Miguel Wisnik

Vê se encontra um tempo
pra me encontrar sem contratempo
por algum tempo
o tempo dá voltas e curvas
o tempo tem revoltas absurdas
ele é e não é ao mesmo tempo
avenida das flores
ea ferida das dores
e só então
se sopetão
entro e me adentro no tempo e no vento
e abarco e embarco no barco de Ísis e Osíris
sou como a flecha do arco do arco-íris
que despedaça as flores mais coloridas em mil fragmentos
que passa e de graça distribui amores de cristais totais sexuais celestiais
das feridas das queridas despedidas
de quem sentiu todos os momentos

Os Faróis

Baudelaire

Rubens, rio do olvido, jardim da preguiça,
Divã de carne tenra onde amar é proibido,
Mas onde a vida flui e eternamente viça,
Como o ar no céu e o mar dentro do mar contido;

Da Vinci, espelho tão sombrio quão profundo,
Onde anjos cândidos, sorrindo com carinho
Submersos em mistério, irradiam-se ao fundo
Dos gelos e pinhais que lhes selam o ninho;

Rembrandt, triste hospital repleto de lamentos,
Por um só crucifixo imenso decorado,
Onde a oração é um pranto em meio aos excrementos,
E por um sol de inverno súbito cruzado;

Miguel Ângelo, espaço ambíguo em que vagueiam
Cristo e Hércules, e onde se erguem dos ossários
Fantasmas colossais que à tíbia luz se arqueiam
E cujos dedos hirtos rasgam seus sudários;

Impudências de fauno, iras de boxeador,
Tu que de graça aureolaste os desgraçados,
Coração orgulhoso, homem fraco e sem cor,
Puget, imperador soturno dos forçados;

Watteau, um carnaval de corações ilustres,
Quais borboletas a pulsar por entre os lírios,
Cenários leves inflamados pelos lustres
Que à insânia incitam este baile de delírios;

Goya, lúgubre sonho de obscuras vertigens,
De fetos cuja carne cresta os sabás,
De velhas ao espelho e seminuas virgens,
Que a meia ajustam e seduzem Satanás;

Delacroix, lago onde anjos maus banham-se em sangue,
Na orla de um bosque cujas cores não se apagam
E onde entranhas fanfarras, sob um céu exangue,
Como um sopro de Weber entre os ramos vagam;

Essas blasfêmias e lamentos indistintos,
Esses Te Deum, essas desgraças, esses ais
São como um eco a percorrerem mil labirintos,
E um ópio sacrossanto aos corações mortais!

É um grito expresso por milhões de sentinelas,
Uma ordem dada por milhões de porta-vozes;
É um farol a clarear milhões de cidadelas,
Um caçador a uivar entre animais ferozes!

Sem dúvida, Senhor, jamais o homem vos dera
Testemunho melhor de sua dignidade
Do que esse atroz soluço que erra de era em era
E vem morrer aos pés de vossa eternidade!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Depois Da Opção

Henriqueta Lisboa

Um reposteiro o mais espesso
caia sobre a tragédia dos Andes.
Os que a viveram não falem.
A língua que provou a carne
de seus irmãos emudeça
da mais humana miséria
para não se desnaturar
e sem remédio
depois da opção.

Em estátuas de pedra
se transformem os seres
que amargaram a ponto
de negação a si mesmos
imprensados
entre o vulcão do sangue
e a geleira: fantasmas
caminhando brancas nódoas
negras hóstias em travo
depois da opção.

A dor de quem viu palpou
compreendeu e perdoou
o que a si próprio não
se perdoaria é covardia.
Heróica é a dor dos que sofrem
não pela fome ou sede ou frio
ou cegueira que sofreram
mas pela crua memória
do jamais deglutido
nos desvãos ruminando
entre a alma e os ossos
depois da opção.

Violeta

Casemiro De Abreu

Sempre teu lábio severo
Me chama de borboleta!
- Se eu deixo as rosas do prado
É só por ti - violeta!

Tu és formosa e modesta,
As outras são tão vaidosas!
Embora vivas na sombra
Amo-te mais do que às rosas.

A borboleta travessa
Vive de sol e de flores...
- Eu quero o sol de teus olhos,
O néctar dos teus amores!

Cativo de teu perfume
Não mais serei borboleta;
- Deixa eu durmir no teu seio,
Dá-me o teu mel - violeta!

O Mundo Anda Tão Complicado

Renato Russo

Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez.

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som.

Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço.

Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um p'ro outro:
- Estou com sono, vamos dormir !

Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor.

Wave

Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar

O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...
Vou te contar...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Desejo & Paixão

Fernando Vieira

A noite já caiu e o céu escureceu
Fico a me perguntar se você já me esqueceu
Toda noite é assim, eu sinto a falta de você
O teu cheiro esta em mim parece me entorpecer

A noite parece tão fria se eu não sinto o teu calor
Minha cama esta vazia sem ter você ó meu amor
A solidão me acompanha e vai comigo aonde eu for
Minha saudade é tamanha, às vezes esqueço até quem sou

Tua beleza me fascina, o teu perfume me enlouquece
Quem te amou assim menina tão fácil assim não se esquece
Lua no céu sempre ilumina as minhas noites solidão
E o meu amor por ti menina mistura desejo e paixão

Enquanto Penso Nela

Itamar Assumpção

Observo o sol por detrás da serra
E daquela singela capela
Bem da janela da sala de espera
Desta bela tarde lilás amarela
Enquanto eu penso nela
Observo o mar marejar a terra
Escaravelhos velhas caravelas
Sou sentinela de um barco a vela
Nesta bela tarde lilás amarela
Enquanto penso nela

domingo, 5 de setembro de 2010

Folha Morta

Ary Barroso

Sei que falam de mim
Sei que zombam de mim
Oh, Deus como sou infeliz
Vivo às margens da vida
Sem amparo ou guarida
Oh, Deus como sou
Já tive amores, tive carinhos, já tive sonhos
Os dissabores levaram minha alma
Por caminhos tristonhos
Hoje sou folha morta
Que a corrente transporta
Oh, Deus como sou infeliz, infeliz
Eu queria um minuto apenas/ Pra mostrar minhas penas
Oh, Deus como sou infeliz

Sem Ela Eu Não Vou Mais

Paulinho da Viola

Hoje tem samba no morro
Só eu é que não posso ir
Se alguém notar a minha ausência
Disfarça e diz que não me viu
Sem ela no samba eu não vou
Sem ela este samba acabou pra mim
Eu vou sair do morro hoje
Ninguém dará por falta do meu tamborim
Se por acaso eu voltar amanhã
Se o samba foi bom eu não quero saber
Não quero saber se ela foi também
Se estava sozinha ou com alguém
Não quero mais me preocupar
Porque já dei a decisão final
Se ela não me procurar
Eu vou sair sozinho neste carnaval

Mística

Roberto Riberti / Arrigo Barnabé

Mística mulher
A metafísica te concebeu
Ou será eu
Que imagino e és uma qualquer
Pareces ser do céu
Ou serás de um bordel
Tolo é querer te deduzir
Em vez de ir no teu sorrir
Pois te entender é o ato de destruir
A sensação astral
Da química carnal.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um Dia Você Aprende

William Shakespeare

Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos
e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
e olhos adiante, com a graça de um adulto
e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima
se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam…
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destruí-la,
e que você pode fazer coisas em um instante,
das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você é na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa,
ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida
são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos
com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros,
mas com o melhor que você mesmo pode ser.
descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo,
mas se você não sabe para onde está indo,
qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão,
e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação,
sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute
quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência
que se teve e o que você aprendeu com elas
do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens,
poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia
se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva,
mas isso não lhe dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer
que ame, não significa que esse alguém não o ama,
pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém,
algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto,plante seu jardim e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar…
que realmente é forte, e que pode ir muito mais
longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor
e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

Esta poesia adaptação de uma poesia deste grande escritor. Este texto tem algumas partes escritas por William Shakespeare, mas sofreu algumas alterações.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ando Meio Desligado

Sergio Dias Baptista / Rita Lee / Arnaldo Dias Baptista

Ando
Meio desligado
Eu nem sinto
Meus pés no chão
Olho
E não vejo nada
Eu só penso
Se você me quer
Eu nem vejo a hora
De te dizer
Aquilo tudo
Que eu decorei
E depois do beijo
Que eu já sonhei
Você vai sentir mas
Por favor
Não leve à mal
Eu só quero que você me queira
Não leve à mal

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Samba De Verdade

Eduardo Gudin

Ah! O amor
Esse temporal
Quem buscou se refugiar
Quem largou
Fruta boa no quintal
Se guardou do carnaval
Pra ter paz no coração

Quem secou lágrima de amor
Acatou falsos rituais
Quem deixou
O seu grande amor partir
Pra depois cair em si
Calmaria é solidão

Samba levante essa voz
Se eu mereço perdão
Venha me redimir

Diga a verdade sem dó
Canto a vida que for
Que me encante o amor

Cidade Oculta

Arrigo Barnabé / Eduardo Gudin / Roberto Riberti

Na cidade só chovia
Noite imensa, só havia
Luminosos, agonia
E a vida escorria pela escuridão

Nossas ruas eram frias
Como os homens desses dias
Engrenagens tão sombrias
Esquecidas pelos deuses
A pulsar em vão

Misteriosamente uma andróide
Gritou docemente
Me mostrou a vida
Me encheu de cores
Desenhando um holograma em meu coração
Com seus olhos foi pintando um dia
Reinventando a alegria, brancas nuvens de verão

E a poesia de repente volta a ter razão...

Eu Beijo Sim

Carlos Careqa

Boca de fumar a brasa
Boca de beijar a asa
Teu jeito de fumar
Teu jeito singular
Fumo de inebriar
Fumo de entorpecer
Fumo de cair no chão
Fome de te conhecer
Livra-me do desassossego
Chama-ma – me – me de meu nego
Toca-me, roça-me
Fala-me, beija-me
Beijo de novela
Beijo de irmão
Beijo de recado
Beijo de paixão
Boca de comer a carne
Boca de falar a arte
Poça de pedir a parte
Que me toca
Véu do meu desejo
Sol do meu porão
Beijo que te beijo
Beijo sim ou não
Eu beijo sim
Estou vivendo
Tem gente que não beija
Está morrendo

O Torrão & O Seixo

William Blake

"O Amor jamais a si quer contentar,
Não tem cuidado algum como o que é seu;
Sacrifica por outro o bem-estar,
E, a despeito do Inferno, erige um Céu"

Esse era o canto de um Torrão de Terra,
Pisado pelas patas da boiada;
Mas um Seixo, nas águas do regato,
Modulava esta métrica adequada:

"O Amor somente a si quer contentar,
Atar alguém ao próprio gozo eterno;
Sorri quando o outro perde o bem-estar,
E, a despeito do Céu, ergue um Inferno."

Nada É Impossível de Mudar

Bertolt Brecht

Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

Felina

Gilka Machado

Minha animada boa de veludo,
minha serpente de frouxel, estranha,
com que interesse as volições te estudo!
Com que amor minha vista te acompanha!

Tens muito de mulher, nesse teu mundo,
lírico ideal que a vida te emaranha,
pois meu ser interior vejo desnudo
se te investigo a mansuetude e a sanha

Expões, a um tempo langoroso e arisca,
sutilezas à mão que te acarinha,
garras à mão que a te magoar se arrisca

Guardas, ó tato corporificado!
A alta ternura e a cólera daninha do
meu amor que exige ser amado!