Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Noturno Vulgar

Arthur Rimbaud

Um sopro abre fendas operádicas nas paredes,
embaralha o eixo dos tetos podres,
dispersa os limites das lareiras,
eclipsa vidraças.
Pelas videiras, apoiando o pé numa gárgula,
desci nesse côche de uma época bem indicada pelos espelhos convexos,
almofadas bojudas e sofás distorcidos.
Carro funerário do meu sono, solitário,
casa de pastor de minha tolice,
o veículo vira sobre o mato da grande estrada desaparecida :
e num defeito no alto do espelho,
à direita, giram pálidas figuras lunares, folhas, seios;
Um verde e um azul escuros invadem a imagem.
Desatrelagem perto de uma mancha de cascalho.
Aqui vão assobiar às tempestades, e às Sodomas,
e às Solimas,
e aos animais ferozes e aos exércitos,
(Postilhões e animais de sonho vão voltar sob as matas mais sufocantes
para me afogar até os olhos na nascente de seda)
E a nos enviar, açoitados por ondas crispadas e bebidas derramadas
rolando entre latidos de dogues...
Um sopro dispersa os limites da lareira.

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