Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

domingo, 24 de agosto de 2014

Ontem À Noite

Vitor Hugo

Ontem sozinhos eu e tu, sentados,
Nos contemplamos quando a noite veio:
Queixosa e mansa a viração dos prados
Beijava o rosto e te afagava o seio,
Que palpitava como ao longe o mar...
E lá no céu esses rubis pregados
Brilhavam menos que teu vivo olhar!

Co´a mão nas minhas, no silêncio augusto,
Tu me falavas sem mentido susto,
E nunca a virgem que a paixão revela,
Passou-me em sonhos tão formosa assim!

(Tradução de Casimiro de Abreu)

sábado, 23 de agosto de 2014

Cavador Do Infinito

Cruz e Souza

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Que Aconteceu Comigo

Maiakovski 

As esquadras acodem ao porto.
O trem corre para as estações.
Eu, mais depressa ainda,
vou a ti,
atraído, arrebatado,
pois que te amo.
Assim como se apeia
o avarento cavaleiro de Púchkin
alegre por encafuar-se em seu sótão,
assim eu
regresso a ti, amada,
com o coração encantado de mim.
Ficais contentes de retornar à casa.
Ali vos livrais da sujeira,
raspando-vos, lavando-vos,
fazendo a barba.
Assim retorno eu a ti.
Por acaso,
indo a ti não volto à minha casa?
Gente terrena ao seio da terra volta.
Sempre volvemos à nossa meta final.
Assim eu,
em tua direção me inclino
apenas nos separamos
mal acabamos de nos ver.

Verossímel

Adélia do Prado

Antigamente, em maio, eu virava anjo.
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
"Canta alto, espevita as palavras bem."
Eu levantava vôo rua acima.