Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

domingo, 26 de janeiro de 2014

Todas Juntas Num Só Ser


Lenine

Não canto mais Babete nem Domingas,
nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;
nem Drão nem Flora,do baiano Gil,
nem Ana nem Luiza, do maior;
já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara de Chico;
nem Yoko, a nipônica de Lennon,
nem a cabocla de Tinoco e de Tonico.
Nem a tigresa nem a Vera Gata
nem a branquinha de Caetano;
nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
nenhuma continua nos meus planos;
nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
nem Anna Júlia do Los Hermanos.


Só você,
hoje eu canto só você;
só você
que eu quero porque quero,por querer.
Não canto de Melô Pérola Negra,
de Brown e Herbert, nem uma brasileira;
De Ari,nem a baiana nem Maria,
nem a Iaiá também, nem minha faceira;
de Dorival ,nem Dora nem Marina
nem a morena de Itapoã;
divina garota de Ipanema,
nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
de Michael Jackson, nem a Billie Jean;
de Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
nem Ângela nem Lígia ,de Jobim;
nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
das doze deusas de Edu e Chico;
até das trinta Leilas de Donato
e da Layla, de Clapton, eu abdico.


Só você,
canto e toco só você;
só você,
que nem você ninguém mais pode haver.
Nem a namoradinha de um amigo
e nem a amada amante de Roberto;
e nem Michelle-me-belle,do beattle Paul,
nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg
nem de Totó, na malafemmená,
nem a Iaiá de Zeca Pagodinho,
nem a mulata mulatinha de Lalá;
e nem a carioca de Vinícius
e nem a tropicana de Alceu
e nem a escurinha de Geraldo
e nem a pastorinha de Noel
e nem a namorada de Carlinhos
e nem a superstar do Tremendão
e nem a malaguenha de Lecuona
e nem a popozuda do Tigrão.


Só você,
hoje elejo e elogio só você;
só você,
que nem você não há nem quem nem quê.
De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
de Mário Lago e Ataulfo Alves,
não canto nem Emília nem Amélia,
nenhuma tem meus ''vivas'' e meus ''salves''!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
e nem Roxanne, de Sting, do Police;
e nem a mina do mamona Dinho
e nem as mina ? pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê, Loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro Rei, o do Baião;
nenhuma delas hoje cantarei,
só outra reina no meu coração:


Só você,
rainha aqui é só você; só você,
a musa dentre as musas de A a Z.
Se um dia me surgisse uma moça
dessas que, com seus dotes e seus dons,
inspira parte dos compositores
na arte das palavras e dos sons,
tal como Madallene, de Jacques Brel
ou como Madalena, de Martinho
ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry
ou a manequim do tímido Paulinho
ou como, de Caymmi, a moça prosa
e a musa inspiradora Doralice;
se me surgisse uma moça dessas,
confesso que eu talvez não resistisse;
mas, veja bem, meu bem, minha querida,
isso seria só por uma vez.
Uma vez só em toda a minha vida,
ou talvez duas, mas não mais que três!


Só você,
mais que tudo é só você;
só você,
as coisas mais queridas você é:
Você pra mim é o sol da minha noite,
é como a rosa luz de Pixinguinha;
é como a estrela pura aparecida,
a estrela a refulgir do Poetinha;
você, ó floré como a nuvem calma
no céu da alma de Luiz Vieira;
você é como a luz do sol da vida
de Stevie Wonder,ó minha parceira.
Você é pra mim o meu amor
crescendo como mato em campos vastos;
mais que a Gatinha pra Erasmo Carlos,
mais que a cigana pra Ronaldo Bastos,
mais que a divina dama pra Cartola,
que a domna pra Ventadorn,Bernart;
que a Honey Baby para Waly Salomão
e a Funny Valentine para Lorenz Hart!


Só você, só você
mais que tudo e todas, é só você;
só você
que é todas elas juntas num só ser!

Nem Tudo É Fácil


Cecília Meireles


É difícil fazer alguém feliz,
assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo,
assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor,
assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje,
assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom,
assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz,
assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir,
assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém,
assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.

Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão?
Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!

Que Não Se Vê

Caetano Veloso

Uma intensa luz
que nao se vê
passapela voz
ao se calar
É a vez de uma estrela
guarda o nome dela
nosso coraçao é o seu lugar

Somos sempre sós
e ainda assim
ela brilha em nós
em ti, em mim
nem bruta nem bela
o silêncio é tê-la
a voz dessa luz, sem fim, sem fim

Come tu mi vuoi. Saró, Saró
Quello che tu vuoi. Faró, faró
Non ti lascieró mai
Ma non ti ameró mai
questo tu lo sai, sí lo sai

Uma intensa luz que nao se vê
passa pela voz ao se calar

sábado, 25 de janeiro de 2014

Soneto Do Teu Corpo


Paulinho Moska

Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sái sem rumo pra viagem
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem
Quero inventar a estrada enquanto avanço

Beijo teus pés
Me perco entre teus dedos
Luzes ao norte
Pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus segredos

Como em teus bosques
Bebo nos teus rios
Entre teus montes
Vales escondidos
Faço fogueira
Choro, canto e danço

Línguas de Lua
Varrem tua nuca
Línguas de Sol
Percorrem tuas ruas

Eu juro beijar teu corpo sem descanso
Eu juro
Juro beijar, eu juro

O Bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.