Gilka Machado
Falas... E, por te ouvir, me
fico muda e queda; a minha
alma, porém, começa a
atravessar uma larga, uma
longa e sombria alameda de
laranjas em flor se
despetalando ao luar...
Falas... Pelo silêncio há
capulhos de seda...
Toma-me a sensação de um
langor singular...
Falas... E tua fala, ora triste,
ora leda, tem a ascensão sutil
do aroma a espiralar
Falas... Ao te escutar, sinto,
nesse momento, que tua voz
é um branco, é um
perfumoso ungüento para a
chaga febril do meu grande
pesar...
Falas... E, ora, sentindo a tua
suave fala, cuido que um
anjo louro, a sorrir, despetala
flores, sobre meu Sonho
aflito, a agonizar
Voz de surdinas, voz
sugestiva, que assumes a
solene expressão de uma
prece longeva
Voz de surdinas, voz que na
cama se eleva, acariciante,
sutil; voz que o senso
presume a manifestação
exterior de uma leva de
flores, a harmonia etérea do
perfume
Recorda-me esta voz, de tão
meiga, tão mansa, a canção
maternal que me embalava
em criança, e me sinto
infantil, ora, queda, a escutá-la
Essa voz mais parece uma
voz subjetiva, esta voz tão
somente o Silêncio a deriva,
esta voz, com certeza, é do
Silêncio a fala
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