Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uivo

Ginsberg

para Carl Solomon

Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas,
viajaram fumando sentados
na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos
sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades
contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado
e viram anjos maometanos cambaleando
iluminados nos telhados das casas de cômodos,
que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra,que foram expulsos das universidades
por serem loucos e publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes
de pintura descascada em roupa de baixo
queimando seu dinheiro em cestas de papel,
escutando o Terror através da parede,
que foram detidos em suas barbas públicas voltando por Laredo
com um cinturão de marijuana para Nova York,
que comeram fogo em hotéis mal-pintados
ou beberam terebentina em Paradise Alley,
morreram ou flagelaram seus torsos noite após noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
álcool e caralhos e intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula
e clarão na mente pulando nos postes dos pólos de Canadá & Paterson,
iluminando completamente o mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de quintal
com verdes árvores de cemitério, porre de vinho nos telhados,
fachadas de lojas de subúrbio na luz cintilante de neon
do tráfego na corrida de cabeça feita do prazer,
vibrações de sol e lua e árvore
no ronco de crepúsculo de inverno de Brooklin,
declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz da mente,
que se acorrentaram aos vagões do metrô
para o infindável percurso do Battery
ao sagrado Bronx de benzedrina
até que o barulho das rodas e crianças
os trouxesse de volta,
trêmulos, a boca arrebentada
e o despovoado deserto do cérebro esvaziado de qualquer brilho
na lúgubre luz do Zôológico,
que afundaram a noite toda na luz submarina de Bickford's,
voltaram à tona e passaram a tarde de cerveja choca
no desolado Fugazzi's escutando o matraquear da catástrofe
na vitrola automática de hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do parque ao apê
ao bar ao hospital Bellevue
ao Museu à Ponte de Brooklin,
batalhão perdido de debatedores platônicos saltando
dos gradis das escadas de emergência
dos parapeitos das janelas do Empire State da lua,
tagarelando, berrando, vomitando, sussurando
fatos e lembranças e anedotas
e viagens visuais e choques nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total
com os olhos brilhando por sete dias e noites,
carne para a sinagoga jogada na rua,
que desapareceram no Zen de Nova Jersey de lugar algum
deixando um rastro de cartões postais ambíguos
do Centro Cívico de Atlantic City,
sofrendo amores orientais,
pulverizações tangerianas nos ossos enxaquecas da China
por causa da falta da droga no quarto
pobremente mobiliado de Newark,
que deram voltas e voltas à meia-noite
no pátio da estação férroviária
perguntando-se onde ir e foram,
sem deixar corações partidos,
que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões de carga,
vagões de carga que rumavam ruidosamente pela neve
até solitárias fazendas dentro da noite do avô,
que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz,
telepatia e bop-cabala
pois o Cosmos instintivamente vibrava a seus pés em Kansas,
que passaram solitários pelas ruas de Idaho
procurando anjosíndios e visionários,
que só acharam que estavam loucos quando Baltimore apareceu
em êxtase sobrenatural,
que pularam  em limusines com o chinês de Oklahoma
no impulso da chuva de inverno
na luz da rua da cidade pequena à meia-noite,
que vaguearam famintos e sós por Houston procurando jazz
ou sexo ou rango e seguiram o espanhol brilhante
para conversar sobre América e Eternidade,
inútil tarefa, e assim embarcaram num navio para a África,
que desapareceram nos vulcões do México nada deixando
além da sombra das suas calças rancheiras e a lava
e a cinza da poesia espalhadas na lareira de Chicago,
que reapareceram na Costa Oeste
investigando o FBI de barba e bermudas
com grandes olhos pacifistas e sensuais
nas suas peles morenas,
distribuindo folhetos ininteligíveis,
que apagaram cigarros acesos nos seus braços protestando
contra o nevoeiro narcótico de tabaco do capitalismo,
que distribuíram panfletos supercomunistas em Union Suare,
chorando e despindo-se enquanto as sirenes de Los Alamos
os afugentavam gemendo mais alto que eles
e gemiam pela Wall Street
e também gemia a balsa da Staten Island
que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos,
nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,
que morderam policiais no pescoço
e berraram de prazer nos carros de presos
por não terem cometido outro crime
a não ser sua transação pederástica e tóxica,
que uivaram de joelhos no Metrô
e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos,
que se deixaram foder no rabo por motociclistas santificados
e urraram de prazer, que enrabaram e foram enrabados
por estes serafins humanos,
os marinheiros, carícias de amor atlântico e caribeano,
que transaram pela manhã  e ao cair da tarde em roseirais,
na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livre-  
mente seu sêmem para quem quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar
mas acabaram choramingando atrás de um tabique de banho turco
onde o anjo loiro e nu veio atravessá-los com sua espada,
que perderam seus garotos amados para as tres megeras do destino,
a megera caolha do dólar heterossexual,
a megera caolha que pisca de dentro do ventre
e  a megera caolha que só sabe ficar plantada sobre sua bunda
retalhando os dourados fios do tear do artesão,
que copularam em êxtase insaciável com uma garrafa de cerveja,
uma namorada, um maço de cigarros,
uma vela, e caíram da cama e continuaram pelo assoalho e pelo corredor
e terminaram desmaiando contra a paerede
com uma visão da buceta final
e acabaram sufocando um derradeiro lampejo de consciência,
que adoçaram trepadas de um milhão de garotas trêmulas ao anoitecer,
acordaram de olhos vermelhos no dia seguinte
mesmo assim prontos para adoçar trepadas na aurora,
bundas luminosas nos celeiros  e nus no lago,
que foram transar em Colorado numa miríade de carros roubados
à noite, N.C. herói secreto destes poemas,
garanhão e Adonis de Denver - prazer ao lembrar de suas incontáveis trepadas
com garotas em terrenos baldios
e pátios dos fundos de restaurantes de beira de estrada
raquíticas fileiras de poltronas de cinema,
picos de montanha, cavernas
ou com esquálidas garçonetes no familiar levantar de saias
solitário  á beira da estrada & especialmente secretos solipsismos
de mictórios de postos de gasolina
& becos da cidade  
natal também,
que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram transportados
em sonho, acordaram num Manhattan súbito e conseguiram voltar
com uma impiedosa ressaca de adegas de Tokay
e o horror dos sonhos de ferro da Terceira Avenida
& cambalearam até as agências de emprego,
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios de sangue
pelo cais coberto por montões de neve, esperando que  
se abrisse uma porta no East River dando num quarto  
cheio de vapor e ópio,
que criaram grandes dramas suicidas
nos penhascos de apartamentos de Hudson
à luz de holofote anti-aéreo da lua &  
suas cabeças receberão coroa de louro no esquecimento,(...)

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