Anita Costa
Não suporto a visão dos acidentes que se distribuem pela auto-estrada
sigo acumulando desculpas justificativas convincentes por mais um atraso ou ausência
tenho náuseas ao tentar olhar a cena do desastre
ao mesmo tempo amoleço ao mesmo tempo me esforço para acelerar – o carro não obedece
mas sei que nada pode passar de um delírio passageiro
as manhãs nunca passam como gostaríamos
já me acostumei, mesmo sem rádio ou toca-fitas
já me acostumei
a ensaiar um enfarte no meio da avenida
a temer um desmaio em horas impróprias
me acostumei com o sal ao redor dos lábios salvando a pressão
que costuma baixar no calor
me acostumei mesmo com o carro a cena os desastres
rompendo o concreto pela manhã
mas mesmo assim não suporto
não suporto a visão dos acidentes que se distribuem
nem mesmo o acúmulo de justificativas
desculpas
por mais um atraso
mais uma ausência uma falta
enquanto um cão se debate no asfalto
e algumas pessoas se reúnem para assistir
Annita Costa nasceu em 1975 em São Paulo, é jornalista e mestre em Comunicação e
Semiótica pela PUC-SP. Publicou : "fundos para dias de chuva" pela Ed.7letras.annita.costa@terra.com.br
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