Henriqueta Lisboa
Numa terra negra
que mal acredito,
num planeta alheio
a este céu tão lúcido,
num planeta fora
de todas as órbitas,
a horas que não ousam
fixar os relógios,
se derramam lívidas
torrentes de sangue
para o bom cultivo
de jardins recônditos.
A flora macabra
com legados de honra
precisa de sangue
para alimentar-se!
Dálias e papoulas
de um parque vindouro
surgirão do solo
para que outros seres
- chegado o seu turno -
calados pereçam.
Mais sangue, mais seiva
para a terra negra!
A festa é de púrpura?
Quereis sangue rubro?
Tomai-o dos poetas
que se retemperam,
as liras ao fogo.
Quereis sangue claro
de nascente rosa?
Tomai-o das crianças,
tomai-o das jovens
mulheres redondas
que exibem segredos
de felicidade.
Sangüíneas inéditas
de várias espécies!
Um dia que eu vejo
em futuro próximo
romperá o sol
sufocando a terra
negra, negra terra,
babujando-a com
lodosos, espessos
vômitos de sangue.
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