Antonio Miranda
O Brasil que eu vejo se imagina
Diferente em seus ínclitos fervores
Mas que é, nas entranhas férteis
- horrores! – miragens e estertores.
Um Brasil que se dá negando
Seus favores. Palavras vazias,
Luzidias, ostentando insígnias
Na imensidão insólita
Voraz. Continental. Etc. e tal.
De paredes alcalinas,
Ou de pedras de alcantaria;
Dormentes pungentes,
Vociferando seus rancores.
Seus amores.
Brasil que se sabe imperfeito
Em sua completeza,
Natureza falaz.
(...)
A Pátria dói nas entrelinhas!
(...)
Patria que se derrama pelos esgotos,
Pelos escombros, como escambo,
Favores e escárnio. Raios!
(...)
O Brasil que se mostra não é
O que é, mesmo que verdadeiro.
(...)
O Brasil é uma nota de rodapé.
Terra dos papagaios,
Pára-raios, parabólicas,
Das multidões distraídas,
Sefreguidões.
Mas a gente ainda chega lá.
O Brasil que a gente sonha
Tem contornos de mulher,
Tem ancas, bumbum, potrancas,
Duas polegadas a mais.
(...)
Todos os brasis no relicário,
Todos os brasões, armários,
Virgens, salafrários,
Não obstante os altares profanos,
Os terreiros, a jaca de aroma
Afrodisíaco. Tudo ou nada.
(...)
O Brasil é um ponto de exclamação,
Extrema-unção,
Salve-se quem puder!
(...)
Do Brasil que historiamos
Saem heróis e estatuas eqüestres.
Inconfidentes, videntes,
Vedetes. Santos barrocos,
Piás, jangadeiros,
Campeões de formula um.
(...)
Porque o Brasil é muitas vezes,
É muito mais, é isso aí,
É aquele abraço,
É o jeito e trejeito,
É a hóstia e o despacho.
(...)
Mãe gentil,
Teu filho pródigo,
Teu amante endividado,
Tua razão e o nosso ser,
Hipotecado de amor,
E de esperança.
Brasil.
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