Poesias Escondidas


Uma pequena demonstração do amor pela nossa língua e nosso idioma, mesmo quando a poesia ou a letra de música for de autoria de um estrangeiro, sendo ou não radicado no Brasil, só serão publicadas as traduções ( caso o idioma não seja a língua portuguesa )...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Senhora Feliz

Hojerizah
As longas datas
Em que passei
Perdido na cadência
Dos dias
São breves os dias
Em que alcancei
Os doces olhos
Da senhora feliz
Que acena o seu manto
E me diz venha cá

Deixes ver
O que queres senhora
O riso e o gozo
Das alegres temporadas
Que procura todo homem
Como cego sem chão

Abram suas alas
À dama do esplendor
Se ouvir um grito
De loucos ao redor
Eles são teus filhos,
Muitos filhos são
Senhora feliz és a mãe de um crime, senhora feliz
Bom e generoso e sorris
Quando esbofeteias e
Ofendes o corpo com os dias
Feliz velho
Feliz criança
Senhora feliz

Pisei em vão na longa estrada
Perdido na estrela furtiva
Que sobe e desce na madrugada
Como um pássaro ferido
Que estremece o seu vôo
Nos lençóis que virgem amou
Abra as asas como um leque senhora
Seja o abrigo e beijes
As esperanças vadias
Que encontram tuas garras
Procurando por tua mão

Palmas, muitas flores
Imagens de pavor
Se ouvir um grito
De loucos ao redor
Eles são teus filhos,
Muitos filhos são
Senhora feliz

Até Onde For Seguir

Picassos Falsos

O mar não bate mais em minha porta
E hoje um pouco menos em meus pés
Os olhos vão se abrindo cheios de preguiça
Querendo acreditar em algo melhor do que é
Porém meu corpo parece de fogo
E nada me impede mais de seguir
Até onde for seguir

O vento cheira a quase tudo
e nada é tão puro
Em tudo que enxergo
Nem tão cruel no nebuloso céu
O paraíso existe
Até onde eu possa acreditar
Na letra do samba-canção
Na força que me faz seguir
Até onde for seguir

Só me resta aplaudir
Quando você chegar
Só seu jeito mais calmo
Acalma meus olhos
De tanto buscar algo novo

Seguir, até
onde for seguir
Seguir, até
onde for segu

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Traduzir-Se

Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Fragmentos

Maiakóvski

1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso

2

Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez
sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te
com o
relâmpago
de mais um telegrama

3

O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano

4

Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo

5

Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.

(tradução: Augusto de Campos)

E Então, Que Quereis?...

Maiakóvski

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Abismo Temporário

Jô Oliveira (Érebos - 1990)

Seu rosto explode de surpresa
na tela a ontem pantera e sua presa
no piano quem sabe quém tocou
unhas vermelhas vampirescas boca roxa
vozes superpostas
praia de Ipanema
América Central
telegramas cartas abertas
trocas de insultos e ameaças
na pauta do dia
a rádio pirata n ar
a frente fria de Buenos Aires
morte em Santiago
a bolsa fecha na média
nem alta nem baxa
alguém chora por mim
inflame
frenesi
frêmito
mortal
silêncio.

sábado, 26 de julho de 2008

Senhora Minha, Se De Pura Inveja

Luís Vaz de Camões

Senhora minha, se de pura inveja
Amor me tolhe a vista delicada,
A cor, de rosa e neve semeada,
E dos olhos a luz que o Sol deseja,

Não me pode tolher que vos não veja
Nesta alma, que ele mesmo vos tem dada,
Onde vos terei sempre debuxada,
Por mais cruel inimigo que me seja.

Nela vos vejo, e vejo que não nasce
Em belo e fresco prado deleitoso
Senão flor que dá cheiro a toda a serra.

Os lírios tendes nu~a e noutra face.
Ditoso quem vos vir, mas mais ditoso
Quem os tiver, se há tanto bem na terra!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Mal Nenhum

Lobão / Cazuza

Nunca viram ninguém triste
Por que não me deixam em paz
As guerras são tão tristes
E não têm nada demais
Me deixem bicho acuado
Por um inimigo imaginário
Correndo atrás dos carros
Feito um cachorro otário
Me deixem, ataque equivocado
Por um falso alarme
Quebrando objetos inúteis
Como quem leva uma topada
Me deixem amolar e esmurrar a faca
Cega da paixão
E dar tiros a esmo e ferir sempre o mesmo
Cego coração
Não escondam suas crianças
Nem chamem o síndico
Não me chamem a polícia
Não me chamem o hospício, não
Eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim mesmo

terça-feira, 22 de julho de 2008

Mestres Cantores

Luiz Tatit / Zé Miguel Wisnik

Nós aqui mestres cantores
Aprendizes felizes
Modestos e muito dignos
Da prosa da prosódia
Da prosápia da poesia
Da música popular
Da canção enquanto tal
Da música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz

Nós aqui livres docentes
Docemente livres
Entra o rap e o repente
A canção dolente
A canção e seu matizes
A música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz

E se a baiana escondeu no tabuleiro
O xadrez de estrelas de Vieira
E vai pondo em cada acarajé
A pimenta da fé
E o discurso engenhoso no tempero?

Nós aqui mestres cantores
Aprendizes felizes
Modestos e muito dignos
Da prosa da prosódia
Da prosápia da poesia
Da música popular
Da canção enquanto tal
Da música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz
Da música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz

E se no gozo perfeito
Das próprias faculdades
De músicas letras ciências
Artes exatas
Nós aqui de escola em escola
De escala em escala
Deixamos em São Paulo
As misturas intactas?

Nós aqui livres docentes
Docemente livres
Entra o rap e o repente
A canção dolente
A canção e seu matizes
A música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz
A música total
Da voz que fala
Pela fala e pela voz

E se a canção é o chão de estrelas
Em que se mira e considera
Tanto o céu do pensamento
Quanto o momento em que alguém
Pisa e dança sobre a terra?

Nós aqui mestres cantores
Aprendizes felizes
Modestos e muito dignos
Da prosa da prosódia
Da prosápia da poesia

Acho / Agora

Carlos Careqa

Acho que fiz meia música pra você
Aceita minha meia música
Desculpa o meu vexame
De fazer meia música pra você

Acho que quero ser meio de você
Metade da metade
Da super felicidade
Do meio que provoca o teu prazer...

Agora quero te fazer uma música inteira
Agora não quero mais aquela música ligeira
Agora ser mais feliz
Agora está por um triz

Agora estou te amando tronco e membros
Agora estou sentindo mais do que dizendo
Agora estou mais do céu
Agora quero ser teu

Saber do amor, saber, sabor, sabendo
Provar do teu gosto de estar vivendo
Perder por te ganhar
Ouvir sem escutar

Agora a amizade é mais que love
Agora tua pessoa ficou mais nobre
Agora ficar aqui
Agora já, now, feliz

Um som que move
Outro comove
Agora acho que fiz uma música e meia
Pra você

O Poema De Um Louco

Alvarez de Azevedo

(Fragmento de "O Conde Lopo")
There is something which I dread It is a dark, a fearful thing.

. . . . . . . . .

That thought comes o'er me in the hour Of grief, of sickness, of sadness 'Tis not the dread of death! 'tis more —It is the dread of madness.

Lucretia Davidson

I

Foi poeta: cantou, e o estro em fogo

Crestou-lhe o peito, devorou seus dias

E a febre ardente desbotou-lhe a fronte

Em dores sós, em delirar insano.

Foi poeta: cantou, sonhou: a vida

Canto e sonhos lhe foi. Amor e glória

Com asas brancas viu sorrindo em vôos.

Foi-lhe vida sonhar: e ardentes sonhos

A fronte lhe acenderam, lhe estrelaram

Mágico da existência o firmamento.

Cantou, sonhou—amou:: cantos e sonhos

Em amor converteu-os. De joelhos

Em fundo enlevo ele esperou baixasse

Alguma luz do céu, que amor dissesse—

Anjo ou mulher! embora que ele a amara

C'o fogo queimador que o consumia

Com o amor de poeta que o matava!

Anjo ou mulher—embora! e em longas preces

Noite e dia o esperou—Mísero! Embalde!

Sonhou—amou—cantou: em loucos versos

Evaporou a vida absorta em sonhos—

E debalde! ninguém chorou-lhe os prantos

Que sobre as mortas ilusões já findas

Pálido derramara—

Amou! E um peito

Junto ao seu não ouviu bater consoante

C'os amores do seu! Ninguém amou-o

E nem as mágoas lhe afogou num beijo! —

E morreu sem amor.—Bateu-lhe embalde

O pobre coração em loucas ânsias.

Passou ignoto, solitário e triste

Entre os anjos do amor, só viu-lhe risos

Em braços doutros—e invejosa mágoa

Essa alheia ventura só lhe trouxe.

Nunca a mão dele de uma fronte branca

A alva coroa fez cair da virgem—

Jovem, solteiro, sem consórcio d'alma

Entre as rosas da vida—mas nenhuma

Nem deu-lhe um riso—nem do moço pálido

No imo d'alma guardou uma saudade!

Mas se à terra saudades não deixara

Não levou-as também—do peito o orgulho

Que ninguém quis amar, ninguém amou.

—Foi-lhe quimera o amor, não mais lembrou-o,

Tentou-o ao menos. —E que importa um morto?

Doido é quem geme em lagrimar estéril—

Quando o luto findou e alegre o baile

Corre entre flores no valsar, quem lembra

O defunto que é podre no jazigo?

—Morrera-lhe o sonhar—por que chorá-lo?

E morreu sem amor! E ele contudo

Tinha no peito tanto amor e vida!

Alma de sonhos, tão ardentes, cheia!

E anelante do amor do peito—em outro

Em horas ternas efundir em beijos!

E às vezes quando a fronte pela febre

Pesada e quente sobre as mãos firmava,

Quando esse delirar febril da insônia

Em vertigens travava de sua alma,

Um negro pensamento lhe passava

Como um fuzil no cérebro fervente,

E pensava dos loucos no delírio,

Na escura treva da vertigem tonta!

Temia—a morte não—mas—a loucura.

INVOCAÇÃO

Variações em todas as cordas

I

Alma de fogo, coração de lavas,

Misterioso Bretão de ardentes sonhos

Minha musa serás—poeta altivo

Das brumas de Albion, fronte acendida

Em túrbido ferver!—a ti portanto,

Errante trovador d'alma sombria,

Do meu poema os delirantes versos!

II

Foste poeta, Byron! a onda uivando

Embalou-te o cismar—e ao som dos ventos

Das selváticas fibras de tua harpa

Exalou-se o rugir entre lamentos!

III

De infrene inspiração a voz ardente

Como o galope do corcel da Ucrânia

Em corrente febril que alaga o peito

A quem não rouba o coração—ao ler-te?

Foste Ariosto no correr dos versos,

Foste Dante no canto tenebroso,

Camões no amor e Tasso na doçura,

Foste poeta, Byron!

Foi-te a imaginação rápida nuvem

Que arrasta o vento no rugir medonho—

Foi-te a alma uma caudal a despenhar-se

Das rochas negras em mugido imenso.

Leste no seio, ao coração, o inferno,

Como teu Manfred desfraldando à noite

O escurecido véu.—E riste, Byron,

Que do mundo o fingir merece apenas

Negro sarcasmo em lábios de poeta.

Foste poeta, Byron!

IV

A ti meu canto pois—cantor das mágoas

De profunda agonia! —a ti meus hinos,

Poeta da tormenta—alma dormida

Ao som do uivar das feras do oceano,

Bardo sublime das Britânias brumas!

1

Foi-te férreo o viver—enigma a todos

Foi o teu coração!

Da fronte no palor fervente em lavas

Um gênio ardente e fundo:

O mundo não te amou e riste dele

—Poeta—o que era-te o mundo?

Foste, Manfred, sonhar nas serras ermas

Entre os tufões da noite—

E em teu Jungfrau—a mão da realidade

As ilusões quebrou-te!

Como um gênio perdido—em rochas negras

Paraste à beira-mar.

Do escuro céu falando às nuvens—solto

O negro manto ao ar!

O mar bramiu-te o hino da borrasca

E em pé—no peito os braços—

O riso irônico—vinha o azul relâmpago

T'esclarecer a espaços.

A fonte nua o rorejar da noite

Frio—te umedecia

E acima o céu—e além o mar te olhava

C'os olhos da ardentia!

2

As volúpias da noite descoraram-te

A fronte enfebrecida

Em vinho e beijos—afogaste em gozo

Os teus sonhos da vida.

E sempre sem amor, vagaste sempre

Pálido Dom João!

Sem alma que entendesse a dor que o peito

Te fizera em vulcão!

3

Da absorta mente os sonhos te quebrava

Do mundo o sussurrar.

E foste livre refazer teu peito

Ao ar livre do mar.

E quando o barco d'alta noite aos ventos

Entre as vagas corria

E d'astro incerto o alvor te prateava

A palidez sombria,

Era-te amor o pleitear das águas

Nos rochedos cavados—

E amargo te franzia um rir de gozo

Os lábios descorados!

E amaste o vendaval, que as folhas trêmulas

Das florestas varria—

E o mar—alto a rugir—que a ouvi-lo, a fronte

Altiva se te erguia!

E amaste negro o céu—o mar—a noite

E entre a noite—o trovão!

Num crânio zombador brindaste aos mortos.

Cantor da destruição

4

E um dia as faces desbotou-te a morte

De alvor, frio e letal

Deram-te em presa aos vermes—Mas que importa

Se é teu nome imortal?

Se foste sobranceiro na peleja

Como o foras nos cantos—

Se o grego litoral e o mar que o banha

Por ti beberam prantos?

Se do levante as virações correndo

Nos mares orientais

Deram-te nênias no sussurro trêmulo,

Byron, se o nome teu lembra um espírito

Das glórias decaído

E fez-te o coração os teus poemas

De coração perdido,

Se co'a dor de teus hinos simpatizam

Duma alma os turvos imos

E o teu sarcasmo queimador consola

E contigo sorrimos?

5

Vem, pois, poeta amargo da descrença

Meu Lara vagabundo—

E co'a taça na mão e o fel nos lábios

Zombaremos do mundo!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Acrilic On Canvas

Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha / Marcelo Bonfá

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim".

domingo, 13 de julho de 2008

Janelas Abertas

Jô Oliveira

Linda feito papela crepon
belle de jour!
arriscar a pele negra de ninguém
arriscar a garganta na guilhotina dela
ela entra e cai de boca em tudo
acredita e faz-se forte cada vez mais
liga e marca encontro
no outro morro alguém parado na sala
ah! esse concentrado cheiro port salut...

Quinta-feira, 22:30 horas

(A primavera virá dentro de 30 dias!)
lembra alguém um rosto feminino
enrugado manto diáfano
toalhas do tempo na janela
sob a luz do sol ela
- od time charcoal mellowed - Tennenssee
na língua-crepon escreve teu nome
santafúriadapaixão
lilás.

sábado, 12 de julho de 2008

Plenilúnio

Augusto dos Anjos

Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencórea lua,
Também envolta num sudário — a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Bom Sujeito


Arrigo Barnabé


Eu digo o que sinto

no fundo do peito

não meço palavras

sou sem preconceito

eu falo sincero

com todo respeito

direto na cara

sem jogo ou efeito

eu gosto de sexo já fiz video tape

sou fã 100%

na vida e na tela o amor se revela

por fora e por dentro

eu penso o que penso

e acho direito

não transo mentiras

eu sou bom sujeito.

Chavão Abre Porta Grande

Itamar Assumpção

Não adianta vir arreganhando os dentes para mim
Porque sei que isso não é um sorriso

Penso logo existo, penso que existo
Penso que penso, penso que penso

Canto logo existo, canto enquanto isso
Canto o quanto posso, enquanto posso

Entre o sim e o não existe um vão
Entre o sim e o não existe um vão

Entre o sim e o não existe um vão
Entre o sim e o não existe um vão

Você já portou luvas no porta-luvas?

Lembre-se
Quem não vive tem medo da morte
Quem não vive tem medo da morte
Quem não vive tem medo da morte

Lembre-se
Chavão abre porta grande
Chavão abre porta grande
Chavão abre porta grande

Não sei se gosto de mim
Não sei se gosto de você
Mas gosto de nós
Non so se me amo
Non so se ti amo
Pero amo a noi due

O real é a rocha que o poeta lapida
Doando à humanidade mal agradecida
Poeta, talvez seja melhor
Afinar o coro dos descontentes.

De repente
O amor de sempre não era mais suficiente
O amor de sempre de repente não era mais suficiente

Je ne sais si je me plait
Je ne sais si tu me plait
Mais nous deux me plait

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Suspeito

Arrigo Barnabé & Hermelino Neder

Você tem medo de fazer amor comigo
Você tem medo de acordar com um bandido
E ver no espelho escrito com batom:
- Tchau trouxa, foi bom!
Você não sabe de onde eu tiro o meu dinheiro
Você não sabe o que eu faço o dia inteiro
E esse mistério destrói a nossa paz
Ah, não posso mais
Não me pergunte nada, me deixe apenas vendo
Seu corpo lindo vindo para mim
E não se esconda tanto pois o seu corpo chama
Um outro corpo solto sobre o seu que eu bem sei
É o meu
Você suspeita que eu não seja um bom sujeito
E não entrega seu amor a um suspeito
Mas mesmo tentando jamais conseguirá
Não me desejar

Vou Tirar Do Dicionário A Palavra Você

Itamar Assumpção

Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Vou mudar meu vocabulário
e no seu lugar
vou colocar outro absurdo
Vou tirar suas impressões digitais
da minha pele
Tirar seu cheiro
dos meus leçóis
O seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
assim que descobrir
com quantos "nãos" se faz um "sim".

Eu vou tirar o sentimento
do meu pensamento
sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
a qualquer momento
Procurar outra lembrança

Vou tirar, limar de vez sua voz
dos meus ouvidos
eu vou tirar você e eu de nós
o dito pelo não dito
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
assim que descobrir
com quantos "nãos" se faz um "sim".

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Que É O Que É

Gonzaguinha

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

Mas e a vida
Ela é maravida
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

Tetê Tentei

Itamar Assumpção

Tetê tentei fazer um bolero
Tentei moda de viola
Tentei desvendar mistérios
Tentei dominar a bola
Tentei um tango pra solo
Dupla trio quarteto de trompas
Varei mil noites a fio
Tentei imitar a ema
Tentei em vão criar clima
Tentei nó em pingo d’água
Tentei música latina
Tentei musicar um drama
Tentei inventar poemas
Tentei música urbana
Tentei mais do que imaginas
Tentei centenas de temas
Tentei fugir da rotina
Tentei Sampa e Ipanema
Tentei desdobrar esquinas
Tentei a mais linda cena
Tentei fugir do esquema
Depois disso só me restou
Estar aqui tentando mímicas