Pedro Torres
Não se cobra atenção, nem sentimento
Que se não vem por gosto não compensa.
Pois, se for pra valer que me convença
Não com frases, mas por comportamento.
Há dois fins naturais pra o sofrimento:
Ou uma espera ao final tem recompensa
(Pondo fim ao que lhe causava a ofensa)
Ou deleta-se o amor do pensamento!
Nunca é fácil acertar na decisão
Mas, o amor não nasceu pra o coração
Viver sempre sentindo, apenas, dor...
Quem espera demais um dia cansa
E eu não vou lhe fazer qualquer cobrança
Mas, não espere eu voltar quando eu me for!
Poesias Escondidas
sábado, 19 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
No Silêncio Dos Olhos
José Saramago
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
Poema XVIII
Pablo Neruda
Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não hà rede.
não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando em teus ossos.
Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não hà rede.
não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando em teus ossos.
sábado, 12 de abril de 2014
Papoulas De Julho
Sylvia Plath
(Tradução: Afonso Félix de Souza)
Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno,
Então não fazem mal?
Vocês vibram. É impossível tocá-las.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.
E me fatiga ficar a olhá-las.
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Uma boca sangrando.
Pequenas franjas sangrentas!
Há vapores que não posso tocar.
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?
Se eu pudesse sangrar, ou dormir!
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida!
Ou que seus licores filtrem-se em mim, nessa cápsula de vidro,
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.
(Tradução: Afonso Félix de Souza)
Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno,
Então não fazem mal?
Vocês vibram. É impossível tocá-las.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.
E me fatiga ficar a olhá-las.
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Uma boca sangrando.
Pequenas franjas sangrentas!
Há vapores que não posso tocar.
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?
Se eu pudesse sangrar, ou dormir!
Se minha boca pudesse unir-se a tal ferida!
Ou que seus licores filtrem-se em mim, nessa cápsula de vidro,
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.
As Palavras
Octavio Paz
(Tradução: Haroldo de Campos)
Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas),
chicoteá-las,
dar-lhes açucar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo, galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
depená-las, touro,
bois, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.
(Tradução: Haroldo de Campos)
Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas),
chicoteá-las,
dar-lhes açucar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo, galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
depená-las, touro,
bois, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.
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